Artes/cultura
24/03/2020 às 09:41•5 min de leitura
A pandemia de coronavírus está causando sérias preocupações no mundo inteiro. Além de sobrecarregar o setor de saúde, com hospitais se tornando incapazes de acomodar todos os infectados, está gerando graves problemas na economia, podendo levar a uma recessão global.
O impacto do novo coronavírus na economia da China ainda não é totalmente conhecido, mas os números preliminares publicados nos últimos dias mostram um futuro sombrio, que irá afetar muitos outros países.
(Fonte: Aly Song/Reuters/Reprodução)
Segundo o Escritório Nacional de Estatística da China, foram registradas quedas de dois dígitos em três indicadores econômicos já nos dois primeiros meses de 2020: a produção industrial (atividades de manufatura, mineração e serviços públicos) caiu 13,5% no comparativo anual, algo que não era visto desde janeiro de 1990. As vendas no varejo apresentaram queda de 20,5% e os investimentos em ativos fixos tombaram 24,5%, com todas as diminuições sendo muito maiores do que os analistas previram.
Esses números resultam principalmente das medidas tomadas pelo país para conter a propagação do vírus, incluindo o fechamento de fábricas e lojas em todo o território após o feriado do Ano-Novo Chinês.
Apesar dos dados preocupantes, as autoridades chinesas acreditam que as consequências econômicas da pandemia podem ser controladas e são de curto prazo, com o governo anunciando que tomará medidas sérias de estímulo para conter a situação. Liang Huang, economista-chefe da China International Capital Corporation, disse ao Global Times que, se a situação continuar sem complicações, o país será capaz de alcançar crescimento anual de 6% no Produto Interno Bruto (PIB).
Normalmente, as metas anuais (PIB e inflação) são divulgadas em março durante a sessão anual da Assembleia Popular Nacional, mas o evento foi adiado devido ao surto de Covid-19, e uma nova data ainda deverá ser marcada. Porém, a previsão de economistas independentes é totalmente oposta ao otimismo do governo chinês.
(Fonte: Mark Schiefelbein/AP/Reprodução)
Julian Evans Pritchard, da empresa britânica Capital Economics, afirma que a redução de produção industrial e serviços pode sugerir que o crescimento médio do PIB da China foi 13% negativo no começo do ano, um fato sem precedentes na história econômica do país, cuja última contração do PIB aconteceu em 1976.
"Embora as condições em todo o país devam melhorar gradualmente nos próximos meses, a crescente interrupção global do coronavírus reduzirá o ritmo da recuperação", disse Pritchard. Na atualidade, sendo a China responsável por um terço da manufatura mundial e a maior exportadora de mercadorias, o que acontece por lá com certeza causa impacto global.
Em geral, se a economia de um país cresce, representa mais riqueza e mais empregos. E esse fato é mensurado com base na análise de variações no PIB ou nos valores de serviços e bens produzidos, normalmente em 1 trimestre ou 1 ano.
De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a atual crise de saúde já causou perda estimada de US$ 50 bilhões na economia mundial.
(Fonte: Bloomberg/Reprodução)
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acredita que o novo coronavírus representa a "maior ameaça à economia global desde a crise financeira de 2008". A entidade prevê crescimento global de 2,4% em 2020, menor do que a previsão de 2,9% feita em novembro de 2019. Para a organização, se a pandemia for mais duradoura e intensa, essa taxa pode cair para até 1,5%, devido às fábricas fechadas para evitar a disseminação.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Setores como o turismo estão sendo extremamente afetados após restrições no transporte de passageiros e cancelamento de grandes eventos. Francisco Coll Morales, economista e analista do Fórum Mundial de Turismo, disse em entrevista à BBC News Mundo que o preço de passagens áreas já caiu de 15% a 30%. "Nunca vimos isso antes. É o maior desastre da história do turismo", concluiu. Segundo o especialista, a situação é tão séria que as perdas nessa área podem chegar a R$ 324 bilhões.
Segundo estimativa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), as companhias podem perder até R$ 523 bilhões em receita neste ano devido aos impactos da Covid-19. Algumas empresas, principalmente aquelas de baixo custo, já estão sentindo as consequências da pandemia, como a britânica Flybe, que anunciou falência em 5 de março, resultando em passageiros presos em várias cidades.
A companhia aérea alemã Lufthansa anunciou no começo do mês a redução de sua capacidade em até 50% para enfrentar as consequências financeiras da crise. Essa decisão veio depois do cancelamento de 7,1 mil voos da empresa na Europa e para Israel. O impacto do coronavírus na aviação se refletiu nas Bolsas de Valores nas últimas semanas, com quedas generalizadas de cerca de 10% e alta volatilidade.
A pandemia de coronavírus está causando preocupação em investidores em todo o mundo, pois grandes mudanças nas Bolsas de Valores podem afetar investimentos de fundos de pensão e até poupanças individuais. A última semana de fevereiro registrou o pior desempenho desde 2008.
(Fonte: Bloomberg/Reprodução)
Para conter os problemas, o Banco Central americano optou por cortar taxas de juros em reação, uma medida que tecnicamente tornaria empréstimos mais baratos, incentivando a atividade econômica.
As análises do impacto do surto na economia do Brasil apontam desde janeiro um cenário cada vez mais negativo.
(Fonte: Marcelo Brandt/G1/Reprodução)
De acordo com um estudo dos pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Débora Freire, Edson Domingues e Aline Magalhães, a camada da população com a menor renda deve ser a mais afetada. Usando um cenário projetado de queda de 0,14% do PIB e de 0,1% no nível de emprego, os especialistas concluíram que famílias que recebem até dois salários-mínimos podem ter sua renda 20% mais impactada do que a média dos brasileiros.
"Uma retração no consumo dessas famílias gera um impacto muito pronunciado no PIB. São muitas pessoas que consomem a maior parte da renda", explicou Freire, que, além de coautora do estudo, é pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar). Ela também criticou as medidas que haviam sido anunciadas pela equipe econômica do país antes do pedido de declaração de estado de calamidade pública, pois acredita ser perigoso não agir em curto prazo, e que as medidas tomadas não eram suficientes.
Mesmo após a declaração, a pesquisadora tem suas ressalvas quanto a algumas providências, pois nem todos poderão se beneficiar do saque de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do adiantamento do 13º salário das aposentadorias. Para Freire, a medida mais efetiva para diminuir os impactos para a população seria a transferência de renda, algo que já está em vigor em outros países.
(Fonte: Marcelo Brandt/G1/Reprodução)
Os Estados Unidos criaram um programa que envia cheques de US$ 1 mil diretamente aos cidadãos mais vulneráveis, para aumentar o consumo. Na França, o plano econômico de emergência conta com a entrega imediata de recursos para trabalhadores e empresas, implementação de garantias fiscais para empréstimos, além de outras medidas específicas para proteger as companhias ameaçadas.
A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico informou que as lojas virtuais apresentaram alta de mais de 180% nas transações desde 14 de março. Isso ocorreu porque os consumidores decidiram evitar contato direto com outras pessoas, ampliando as compras pela internet.
(Fonte: LDProd/Thinkstock/Reprodução)
Os produtos mais procurados estão relacionados com a proteção da saúde, principalmente álcool em gel, e alimentos. Uma das maiores plataformas online do país, o Mercado Livre, registrou nos primeiros 15 dias do mês um avanço de 65% nas vendas de produtos de cuidado pessoal, alimentos e bebidas. Para atender à alta demanda, a empresa pretende reforçar o time de logística. Leandro Bassoi, vice-presidente de Mercado e Envios para a América Latina, afirmou que o planejamento do ML prevê antecipar para agora a curva de contratação prevista para 3 meses.
Mas nem tudo são boas notícias. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador, acredita que o setor está preparado para aumentos sazonais, mas ressalta que, mesmo com a alta atual, a crise irá afetar o comércio online. Antes da pandemia, a associação previa um volume de R$ 106 bilhões para o setor, 18% acima do registrado no ano passado, mas nas próximas semanas a projeção será refeita para baixo.