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18/06/2020 às 05:00•3 min de leitura
O dia 9 de abril de 1865 marca o fim da Guerra Civil Americana. Naquela data, o comandante do Exército da Virgínia do Norte Robert E. Lee assinou sua rendição ao General Ulysses S. Grant, comandante do Exército dos Estados Unidos que se tornaria, posteriormente, o 18º presidente norte-americano.
No término da guerra, os antigos Estados Confederados estavam parcialmente destruídos. Ao retornarem para suas casas, os soldados sulistas encontraram apenas ruínas, fome e desespero. O presidente confederado Jefferson Davis foi para a cadeia e seus antigos membros de gabinete se dispersaram derrotados rumo aos seus lares.
Teimosos, alguns confederados intransigentes, como o coronel William Hutchinson Norris e o major Lansford Hastings, recusaram-se a viver sob as ordens de pessoas que consideravam estrangeiras.
Por isso, em vez de aceitarem a inevitável derrota, reuniram uma multidão de cerca de 20 mil pessoas e resolveram partir para outras terras onde pudessem reestabelecer suas antigas colônias confederadas. O destino foi o império escravagista do Brasil.
Fonte: The Vintage News/Reprodução
Além de não se conformarem com a derrota, muitos sulistas não puderam retomar suas vidas anteriores, pois suas terras foram confiscadas pelas autoridades federais. Ou seja, não apenas pelo orgulho e pela obstinação, mas também por absoluta falta de opção, muitos confederados se viram obrigados a recomeçar a vida no exterior.
Embora outros destinos lhes tenham sido oferecidos, como Honduras, México e Egito, os confederados permaneceram firmes em seu propósito de manutenção da supremacia branca, o que fez do Brasil o seu destino natural e único refúgio possível para manutenção de suas convicções.
Na época, o imperador brasileiro Dom Pedro II estava às voltas com a Guerra do Paraguai e tinha interesse em atrair estrangeiros para trabalhar no cultivo do algodão e implantar novas técnicas agrícolas.
Em anúncios publicados nos antigos jornais da Confederação, Dom Pedro II prometia aos rebeldes um país selvagem e abundante, pronto para assentamentos e favorável à escravidão. Num gesto de boa vontade, o Brasil oferecia transporte subsidiado e terras férteis a apenas 22 centavos por acre.
Ante essas ofertas generosas, milhares de sulistas venderam suas posses nos Estados Unidos e rumaram esperançosos para as terras brasileiras.
Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução
William H. Norris foi senador pelo condado de Dallas, no Alabama (e não no Texas), grão-mestre da Grande Loja Maçônica naquele estado e veterano da Guerra Mexicano-Americana de 1846 a 1849. Ele jamais suportou a ideia de continuar em seu país, acreditava que um "Estado livre" (aquele onde a escravidão é proibida) não era um lugar para viver com sua família.
Com um dinheiro que escondeu no quintal da sua casa durante a guerra, Norris comprou três escravos e 500 acres de terra perto de Santa Bárbara d'Oeste, no interior do estado de São Paulo, onde se estabeleceu com a família em dezembro de 1865.
Não demorou para que mais de meia dúzia de assentamentos confederados fossem estabelecidos nos estados do Pará, Paraná e São Paulo. Enquanto os norte-americanos buscavam superar os antagonismos gerados pela guerra, os confederados lutavam para preservar o seu antigo way of life.
Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução
O sonho da reconstrução de uma colônia confederada no Brasil dependia, em grande parte, da capacidade de comprar e controlar escravos. Acreditavam que isso seria possível, pois, dos quase 11 milhões de africanos trazidos à força pelo Atlântico, cerca de 40% vieram parar nas plantações de cana-de-açúcar brasileiras.
Mas a verdade é que os imigrantes norte-americanos não conseguiram comprar muitos escravos — por não saber falar direito o português, por falta de dinheiro ou por falta de conexão com o povo brasileiro, com o qual não se misturavam.
Muitos chefes de colônias faliram ou morreram de doenças e seus seguidores se juntaram ao Coronel Norris em São Paulo.
Em 1877, com a saída das tropas federais do sul dos Estados Unidos, teve início a chamada Era Jim Crow, em que leis segregacionistas foram aprovadas em diversos estados, o que determinou que muitos exilados sulistas retornassem para o seu país na esperança de restaurar a tão sonhada supremacia branca.
Em 1888, o Brasil aboliu a escravidão, mas os confederados remanescentes decidiram permanecer no país, onde se tornaram mais próximos com o objetivo de proteger suas crenças e seu ideário político.
Fonte: Mario Tama/Getty Images - Reprodução
Hoje, 155 anos depois da chegada dos primeiros imigrantes confederados, a maioria dos seus descendentes falam português e se identificam como brasileiros. No entanto, quando chega o mês de abril, reúnem-se na "Festa Confederada", uma comemoração do patrimônio sulista dos Estados Unidos, realizada em Santa Bárbara d'Oeste.
Com saiotes no estilo antebellum, garotas dançam ao estilo square dance (um tipo de quadrilha) e rapazes vestem seus uniformes confederados cinzentos, outros casais dançam o two-step texano. Comem comida sulista e hasteiam a bandeira confederada. E algumas ideias, inclusive, infelizmente permanecem inalteradas.