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01/07/2020 às 14:00•3 min de leitura
O início do século XVIII foi marcado pelo movimento do Iluminismo, que exaltava a razão sobre a autoridade das coisas. Na França, esse período influenciou diretamente a arte, a cultura e principalmente a moda, marcando o poder da burguesia. Assim como o vestuário da Era Elisabetana servia como parâmetros de Lei, a nova moda introduzida se estendeu para o século seguinte com um maior impacto na sociedade, tanto nas classes média quanto nas baixas.
Em uma tarde de 1861, Frances Appleton, a esposa do famoso poeta Henry Wadsworth Longfellow, morreu por consequência de graves queimaduras depois que um fósforo caiu em seu deslumbrante vestido e o incendiou em segundos.
Por incrível que pareça, morrer dessa maneira não era algo incomum durante a Era Vitoriana, visto que os vestidos e assessórios eram confeccionados com componentes altamente tóxicos e inflamáveis.
(Fonte: Imgur/Reprodução)
No final de 1770, o químico sueco Carl Wihelm Scheele criou a pigmentação verde depois de misturar potássio e arsênico branco em uma solução de vitríolo de cobre. Antes disso, a cor verde era a mais difícil de ser reproduzida nas roupas e a mais desejadas pelas costureiras que não conseguiam chegar no tom mesmo misturando corantes amarelos e azuis.
Nomeado de O Verde de Scheele, mais tarde alterado para Paris Green, o produto se tornou uma sensação. As pessoas usavam para pintar paredes, velas, doces, embalagens de alimentos, brinquedos e principalmente tingir tecidos. As flores que iam nas toucas que compunham os elegantes vestidos possuíam arsênico o suficiente para envenenar 20 pessoas de forma letal, segundo um estudo levantado pela Women’s Sanitary Association em 1860.
Em 1861, a fabricante de flores artificiais Matilda Scheurer sofreu uma morte violenta após borrifar o pó verde com arsênico. Ela espumou, depois convulsionou e vomitou bile verde. A autópsia encontrou grande quantidade do químico em estômago, fígado e pulmões.
(Fonte: Antiques Navigator/Reprodução)
Apesar das infecções pulmonares, asfixia, náusea, cólicas, diarreias e dores de cabeça constantes que o Verde de Scheele causava, as pessoas pareciam não se importar. Os vitorianos eram apaixonados demais pelo produto, apesar de ele levar a óbito as crianças que comiam os doces coloridos e respiravam a poeira envenenada dos papéis de parede.
De tanto usarem os lábios para molhar a ponta do pincel, a maioria dos pintores foram envenenados pelo arsênico e também por grandes quantidades de chumbo e rádio que eram misturadas nas tintas.
Milhares de pessoas morreram; porém, ironicamente, muitas delas não eram os usuários. Assim como aconteceu na era da indústria cosmética radioativa de 1930, o envenenamento por arsênico teve maior índice entre os trabalhadores têxteis e operários que cumpriam jornadas enormes em ambientes sem janelas nem equipamentos adequados.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
As indústrias usavam a mão de obra dos pobres para fornecer os melhores e mais caros tecidos que compunham o vestuário das classes dominantes. Com a falta de recursos, os pobres usavam roupas de segunda mão feitas a partir de tecidos reciclados que nunca eram desinfetados, devido aos precários hábitos de higiene. Portanto, muitos deles contraíam varíola, tifo, febre e outras pestilências.
Consequentemente, levavam a sujeira do corpo e das roupas para as confecções. Os uniformes dos soldados eram repletos de piolhos – literalmente vindos de fábrica –, assim como o vestuário dos ricos. A filha de Sir Robert Peel, primeiro-ministro vitoriano, morreu na véspera de seu casamento após usar um vestido contaminado.
(Fonte: Ranker/Reprodução)
Com o aumento de sua popularidade no final dos séculos XVIII e XIX, o algodão era extraído das plantações através de trabalho escravo. A matéria-prima também era altamente inflamável, assim como a seda e a lã. Em 1840, a rainha Vitória popularizou o uso do tule, criado pelo inventor John Heathcoat em sua máquina bobinet.
Para uma aparência mais volumosa e rígida, o tule era banhado com amido altamente combustível. As bailarinas foram as principais vítimas da época. Clara Webster, por exemplo, morreu em 1844 quando o seu tutu pegou fogo no Teatro Drury Lane, em Londres, após chegar muito próximo das luzes do palco.
Muitas pessoas acabaram sendo queimadas vivas enquanto dormiam em seus pijamas de flanela feitos de algodão liso escovado.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Foi a partir dos efeitos colaterais que o uso do chapéu provocava nos homens que o escritor Lewis Carroll deu vida ao Chapeleiro Maluco de Alice no País das Maravilhas. O acessório tão indispensável pela classe alta da Era Vitoriana era produzido com puro mercúrio.
Os fabricantes sabiam muito bem dos riscos, porém era a maneira mais em conta e eficiente de transformar peles de coelhos e lebres em feltro maleável. O agente químico dava à pele do animal uma textura mais suave, brilhante e aveludada.
Os primeiros sintomas eram problemas neuromotores, como movimentos espasmódicos, paralisias e tremores, visto que o mercúrio também ia direto para o cérebro quando inalado. A maioria dos homens desenvolviam problemas cardiorrespiratórios, perdiam os dentes e tinham mortes precoces. Quando sobreviviam, no entanto, os problemas psicológicos agiam com força total. Paranoia, alterações de humor, mudanças de personalidade eram apenas alguns dos efeitos.
O hábito de tomar bebida alcoólica todos os dias ao longo das jornadas de trabalho – uma prática muito comum da época – comprometia o funcionamento do fígado, que então não conseguia eliminar os esporos inalados do mercúrio, acelerando os seus malefícios no organismo das vítimas.
O Instituto de Tecnologia da Moda de Nova York revelou que os Estados Unidos consomem cerca de 84 quilos de têxteis por pessoa a cada ano, e que cada peça de roupa comprada é usada em média seis vezes antes de ser descartada. A fabricação usa mais de 8 mil produtos químicos nos vestuários, muitos deles prejudiciais à saúde, ainda que confortáveis ao corpo, exatamente como era para os vitorianos.