Esportes
08/10/2020 às 15:30•4 min de leitura
Por incrível que pareça, por décadas, o hábito de franzir a testa foi considerado um “crime” em Milão, na Itália, pois a metrópole era conhecida por sua “jovialidade”. Já no Irã, o governo tem uma tabela de tipos de corte de cabelo legalmente autorizados para os homens — tudo para impedir a influência europeia e norte-americana no país.
Ao redor do mundo todo, várias leis consideradas “ridículas” para muita gente podem causar punição severa em diversos países. Algumas delas tentam ser justificadas por meio da necessidade de se manter a ordem e a estrutura sociais ou se apoiam na religião e no medo de perder a sua identidade cultural.
Sob ordens expressas do governo ditatorial de Kim Jong-un, toda e qualquer residência na Coreia do Norte é vasculhada por um grupo chamado Inspetores da Juventude, a fim de encontrar calças jeans na cor azul.
A lei foi criada para combater a influência da cultura ocidental dentro do país e promover a própria como soberana. Os piercings também entraram na lista dos itens proibidos na Coreia, e a pessoa encontrada usando um pode até ser encaminhada para um dos 40 campos de concentração de trabalho forçado espalhados por lá.
Os mesmos fiscais que entram nas casas dos habitantes são aqueles que fazem as inspeções nas ruas e escolas à procura desses “itens transgressores”, principalmente nas províncias de Hamgyong Norte e Yangang, que são regiões onde as pessoas têm um acesso melhor às tendências e às informações do que acontece pelo mundo.
Em 1983, o então ministro do Desenvolvimento Nacional, Teh Cheang Wan, apresentou um projeto de lei para banir para sempre o uso de chicletes, pois eles estavam causando graves problemas de manutenção em prédios residenciais e públicos. Vândalos grudavam a goma de mascar em caixas de correio, fechaduras, botões de elevadores, portas de ônibus, bancos, escadas e também pelo chão. Isso teria aumentado o custo de limpeza e gerado mais prejuízos ao danificar os equipamentos para limpar, além de sujar o “rosto” do país.
O projeto pareceu exagerado demais, porém isso mudou quando o governo descobriu que as pessoas estavam colando chicletes nos sensores das portas do Mass Rapid Transit (MRT), o maior sistema local de trens em Singapura, que custou cerca de US$ 5 bilhões aos cofres do país. Então, em janeiro de 1992, a lei entrou em vigor e proibiu a importação e a venda da goma em todo o território.
Na época, alguns comerciantes se deram ao trabalho de viajar até Johor Bahru só para comprar os chicletes. No entanto, o governo expôs essas pessoas publicamente em rede nacional para servirem de exemplos a qualquer futuro contrabandista. A medida foi tão efetiva que nunca surgiu um mercado ilegal de distribuição da goma.
Desde 2004, a lei só fez uma exceção para as gomas de mascar de nicotina terapêutica e as voltadas para a saúde bucal. Atualmente, o governo permite que a pessoa masque chiclete, mas ainda nenhum pode ser comercializado dentro do país.
Em alguns países do Oriente Médio, o Dia dos Namorados é considerado um feriado de cunho pagão, portanto as celebrações de qualquer caráter são altamente proibidas. No Irã, por exemplo, a data foi proibida em 2011. Na Arábia Saudita, em 2014, 5 homens foram condenados a 34 anos de prisão e submetidos a 4,5 mil chibatadas por estarem dançando com mulheres no Dia dos Namorados.
No Paquistão, por sua vez, o feriado é proibido, pois não é visto como uma tradição muçulmana, além de ser considerado pecado estimular a ideia de se concentrar em um amor que não seja o direcionado a Deus. Em 2011, o governo da cidade Belgroda, localizada na Federação Russa, também proibiu o Dia dos Namorados sob o pretexto de “preservar a segurança espiritual das pessoas”.
Em 2010, o filme épico bilionário do diretor James Cameron foi impedido de ser exibido na China em sua versão 2D, o que causou um prejuízo de cerca de US$ 45 milhões em bilheteria.
Muito embora isso não tenha impedido que o filme se tornasse a maior bilheteria da história da China, arrecadando cerca de US$ 204 milhões no país, o mais curioso foi o motivo pelo qual o filme foi proibido: o medo de uma revolta civil.
Agentes do órgão chinês que controla os níveis de sensibilidade de qualquer obra encontraram no enredo de Avatar possíveis “gatilhos” sociais capazes de estimular pessoas de “mente vulnerável”. Além disso, o governo temia que a popularidade do filme manchasse o mercado cinematográfico nacional.
A China Film Group proibiu o longa-metragem em 2D em 1.628 cinemas por todo o país e, no lugar, exibiu o filme biográfico patriótico sobre a vida do pensador social chinês Confúcio. O Estado só não baniu a versão 3D também porque a China não possuía a mesma quantidade de salas de cinema com essa tecnologia.
Na década de 1970, o governo sueco estabeleceu uma lei que proibia as pessoas de dançarem em locais públicos ou até mesmo dentro de estabelecimentos, como bares e restaurantes, sob pena de multa. Ela foi estabelecida para impedir que levassem à desordem pública e, consequentemente, a motins.
Os estabelecimentos precisavam de uma licença do governo para que seus clientes pudessem simplesmente dançar sem que fossem multados juntamente com o dono do local. Em 2016, a legislatura nacional da Suécia votou para derrubar a lei que impunha a licença, porém até hoje ela ainda não foi totalmente revogada, e os policiais continuam multando e dando voz de prisão aos proprietários de estabelecimentos.
A Administração Estatal de Rádio, Cinema e Televisão da China proibiu qualquer tipo de roteiro que envolve personagens viajando no tempo, visto que “carecem de pensamentos e significados positivos”. Certamente, o medo dos chineses diz respeito ao tipo de sentimento que a possibilidade de alguém voltar no tempo e reescrever a história pode despertar em um espectador, ou seja, a contestação do atual governo pelo espírito de descontentamento da população.
As diretrizes do órgão também apontam temer que os filmes, os programas, os livros e as obras cênicas inventem mitos, tenham contextos estranhos e monstruosos, usem táticas que promovam feudalismo, a superstição, o fatalismo e a reencarnação.
“A justificativa para a proibição das viagens no tempo é de que tudo o que não é possível no mundo real pertence à superstição”, ressaltou o crítico de cinema e jornalista Raymond Zhou Liming. “A maior parte do conteúdo de viagem no tempo que eu vi na literatura e no teatro não é pesado em ciência, mas se trata de uma desculpa para comentar assuntos atuais”, completou Liming ao The Hollywood Reporter.