Ciência
08/12/2020 às 05:00•2 min de leitura
A Ordem Religiosa dos Frades Menores Capuchinhos nasceu por volta de 1525, na região de Marche, na Itália, quando um franciscano percebeu que a roupa que vestia não era do mesmo tipo que a usada por São Francisco de Assis. Sendo assim, ele fabricou um capuz pontudo e começou a andar como um itinerante.
No início do século XVII, os capuchinhos perceberam que o cemitério onde enterravam seus irmãos, localizado em Palermo, na Sicília, Itália, já estava lotado quando o monge Silvestro de Gubbio morreu e precisou ser sepultado. Então, em vez de expandir o terreno, eles decidiram escavar criptas abaixo dele.
Colocado na entrada das catacumbas em 1601, Gubbio foi mumificado pelos monges para que pudessem continuar rezando com ele. Depois de alguns séculos enterrando apenas seus semelhantes, os capuchinhos decidiram abrir as catacumbas para os falecidos da cidade cujas famílias pudessem pagar, uma vez que o local se tornou um símbolo de status para os nobres que queriam ter os corpos de seus entes queridos preservados para sempre em um local abençoado.
Os monges criaram várias salas de secagem com um sistema de drenagem. Os cadáveres eram desidratados, depois banhados em uma solução de vinagre e embalsamados com feno. Os religiosos vestiam os corpos com as roupas fornecidas pelas famílias, que normalmente eram de luxo, e a visitação desses cadáveres pendurados em nichos nas paredes do local feito bonecas de ossos se tornou uma espécie de passeio.
Para manter a combinação da atmosfera natural das catacumbas e a manutenção regular dos cadáveres, o empreendimento custava uma fortuna, principalmente porque muitas pessoas foram encerradas em caixões de vidro sofisticados para a época.
Conforme a popularidade foi aumentando e mais famílias queriam que o descanso final dos parentes fosse nas catacumbas, os monges dividiram ainda mais as seções do lugar. Eles criaram salas dedicadas exclusivamente às virgens, mulheres, homens, crianças e bebês. Inclusive, um dos cadáveres mais famosos e chocantes pelo seu estado de preservação e triste história é o de Rosalia Lombardo, que tinha apenas 2 anos quando morreu de pneumonia. Em sua roupa de festa, ela é uma das múmias que mais parece estar apenas dormindo em seu caixão de vidro.
Foi o antropólogo italiano Dario Piombino-Mascali, do Instituto para Múmias, que localizou os parentes vivos do embalsamador Alfredo Salafia, falecido em meados de 1933 e considerado o último a coordenar o processo de embalsamamento. Eles cederam a Mascali as anotações de Salafia, que explica o mistério do ótimo estado de preservação de Rosalia Lombardo e de tantos outros corpos. Aparentemente, era usado uma fórmula química que envolvia formalina, sais de zinco, álcool, ácido salicílico e glicerina.
Por muitos anos a preservação das Catacumbas dos Capuchinhos foi motivo de discussões pelo povo siciliano, principalmente pelo tabu social envolvendo a relação entre vida e morte. No entanto, a relevância científica e histórica do local acabou consagrando-o.
O acesso às criptas rapidamente foi transformando em roteiro turístico, principalmente no ramo de turismo macabro. O local todo foi adaptado para receber visitantes do mundo todo. Para preservar a história e a experiência ao mesmo tempo, a maioria dos corpos foi protegida por gaiolas de arame, cordões de contenção e placas avisando que é proibido tirar fotos.
Entre nomes religiosos e civis, as Catacumbas dos Capuchinhos abrigam 8 mil cadáveres e 1.252 múmias, inclusive algumas delas até deixadas em poses, como, por exemplo, um casal de meninos em uma cadeira de balanço. Eles foram embalsamados a pedido dos pais, que gostariam de continuar segurando as mãos deles durante as orações semanais que iam fazer nas catacumbas.