Artes/cultura
07/04/2021 às 09:00•2 min de leitura
O luthier Tharun Sekar virou especialista em instrumentos de cordas, mas não adianta pedir para ele construir um violino personalizado. O jovem de 24 anos tem como grande paixão fabricar objetos um pouco mais obscuros, como o yazh e o morin khuur.
Se você não reconheceu os nomes, não tem problema: ambos são de instrumentos musicais dos primórdios das civilizações do povo tâmil, no atual sul da Índia, e na Mongólia.
O objetivo de Sekar com o seu estúdio, batizado de URU e montado em 2019, é ajudar a recuperar sons milenares de diferentes culturas da região, mas que não existem mais em exemplares preservados.
Sekar começou a trabalhar com madeira e música ainda criança, começando por instrumentos que não eram vendidos na região da Índia onde ele cresceu — tudo aprendido por conta própria, a partir de vídeos do YouTube.
Na faculdade, ele cursou Arquitetura e conheceu um luthier durante um estágio, mudando em definitivo para a profissão dedicada à fabricação de instrumentos musicais.
O luthier no processo de fabricação de um instrumento.
Foi nesse período que ele decidiu focar em um segmento diferente desse mercado: o de recuperar instrumentos regionais que não existem mais, dando um toque de arte contemporânea a eles ao mesmo tempo em que fortalece uma tradição.
O primeiro instrumento antigo construído por Sekar foi o yazh, que era utilizado em cortes reais e templos religiosos da Índia desde o século 6 a.C até o século 3 d.C. Depois, ele simplesmente desapareceu, sem deixar qualquer registro sonoro gravado — e as poucas réplicas existentes em museus são apenas peças que imitam o visual.
Uma réplica do yazh.
Depois de muita pesquisa envolvendo teoria musical e um estudo específico do yazh, ele conseguiu fazer um exemplar moderno. As técnicas são parecidas, mas ele trocou alguns dos materiais, já que a caixa acústica era revestida de couro de animal com uma cola feita de açafrão-da-terra.
Para fazer um exemplar do yazh, o luthier levou entre cinco e seis meses. O processo é complicado, já que envolve um bloco sólido de madeira moldado aos poucos, resultando em uma peça de 60 centímetros com sete ou 14 cordas e o formato de um pavão, inclusive com a cabeça do animal esculpida em mínimos detalhes no topo do instrumento.
Os próximos projetos do estúdio envolvem o panchamukha vadyam, um instrumento de percussão com cinco tambores usado nos territórios do Império Chola, também na região da Índia, além do morin khurr, um instrumento de duas cordas tocado por um arco.
A pandemia atrapalhou parcialmente os planos, já que eles envolvem viajar para as localidades típicas para pesquisa e entrevistas, mas a fila de interessados nas obras de Sekar não para de crescer.
Uma unidade quase completa, faltando apenas retoques finais.
Agora, a Uru tem clientes espalhados pelo mundo que já encomendaram um exemplar desse e outros instrumentos, que podem ser tocados pela primeira vez nos últimos dois milênios.