Ciência
06/06/2021 às 04:00•2 min de leitura
Nascida em 10 de dezembro de 1907, na Romênia, Gisella Perl já se mostrou uma promessa acadêmica quando tinha apenas 16 anos e se tornou a única mulher judia a se formar no ensino médio. E, mesmo sob a hesitação de seu pai judeu que não queria que ela perdesse a fé, ela conseguiu entrar para a universidade e se formar em Medicina.
Perl se tornou uma ginecologista de sucesso na cidade onde nasceu, em Sighetu, onde também se casou com o cirurgião Dr. Klauss, e viveu até março de 1944, quando as tropas do Terceiro Reich a separaram de sua família para mandá-la para o campo de concentração de Auschwitz.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Uma vez lá, ela se tornou subalterna do notório "Anjo da Morte", o Dr. Josef Mengele, que a designou para cuidar das mulheres, fornecendo atendimento básico, como lenços umedecidos, água e anti-sépticos. Pouco tempo depois, Perl começou a ter que enfaixar cabeças ensanguentadas, tratar costelas quebradas e limpar feridas.
No momento em que ela foi ordenada a informar sobre toda mulher que estivesse grávida dentro do campo de concentração, tudo mudou.
(Fonte: LiteraturReich/Reprodução)
“As mulheres começaram a correr diretamente para Mengele dizendo: 'Estou grávida'. Então eu percebi que elas estavam correndo em direção ao bloco de pesquisas, onde seriam usadas como cobaias e depois terminariam no crematório”, relembrou Perl, em entrevista ao The New York Times.
Os corpos das mulheres dentro dos campos eram objeto de estudo do médico assassino, dos oficiais da SS e também dos prisioneiros homens que se sentiam no direito de abusá-las. Sendo assim, a gravidez por meio de estupros se tornou algo extremamente comum em um local de morte, onde as mulheres também chegavam em peso grávidas e acreditavam que seriam poupadas das câmaras de gás se alegassem isso.
Mas elas terminavam em locais bem piores do que as câmaras: o complexo de laboratórios de Mengele, onde tinham seus corpos analisados e submetidos a experimentos inumanos, bem como os seus fetos. Foi dessa forma que Perl decidiu que nunca mais haveria outra mulher grávida em Auschwitz, nem que ela precisasse ser morta por isso.
Mesmo sem medicamento, instrumentos, anestesia, antibióticos ou assistência, a médica se comprometeu a instruir que todas as mulheres abortassem.
(Fonte: El País/Reprodução)
No chão sujo ou em beliches dos barracões no meio da madrugada, Perl terminava a gravidez das mulheres com pedaços de pano enfiados na boca delas para que não gritassem e despertassem a atenção dos oficiais da SS. Quando as grávidas conseguiam chegar nos estágios finais da gestação sem receber o aviso da mulher de que ela acabaria no crematório depois de ser estudada junto com seu filho, Perl tirava a vida dos recém-nascidos para salvar as mães.
Para tentar aliviar o peso de tanta morte de seus ombros, a médica ficava apenas imaginando uma vida para aquelas mulheres longe dos horrores que o local proporcionava. Quando foi libertada, em 1947, ela descobriu que toda sua família havia sido assassinada pelos nazistas, exceto sua filha.
Gisella Perl faleceu em dezembro de 1988, em Israel, aos 88 anos.