Ciência
28/07/2021 às 15:00•4 min de leitura
As Olimpíadas de Tóquio 2020 já estão trazendo muitas emoções para o público de todo o mundo, em seu primeiro final de semana de competições. Grande parte dessa empolgação vem dos esportes que estão fazendo sua estreia em Olimpíadas, como o surfe e o skate — este último já garantiu duas medalhas para o Brasil, com a "fadinha", Rayssa Leal, e Kelvin Hoefler. Outro esporte que retorna às Olimpíadas em Tóquio é o beisebol, e sua "versão feminina": o softbol.
Nessas modalidades, o Brasil não tem chance de medalha — até porque nem está na competição. Apenas os seis melhores times do mundo estão em cada evento, com EUA, Japão, México, Israel, República Dominicana e Coreia do Sul no masculino. No softbol, as japonesas vão disputar a medalha de ouro com os Estados Unidos na terça-feira (27), enquanto Canadá e México disputam o bronze.
Mas, como dito, o beisebol e o softbol estão retornando às Olimpíadas e não estreando, como o surfe e o skate. Isso porque as modalidades já fizeram parte do programa antes e foram excluídas. A gente explica essa história toda (e como funciona o esporte) nos próximos parágrafos.
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Beisebol e softbol são versões do mesmo esporte (mais sobre essa diferença a seguir), mas nenhuma das duas é muito popular no Brasil. A gente sabe que ele utiliza tacos e luvas, tem um uniforme característico e as pessoas correm. Mas para que tudo isso?
No beisebol, um time ataca e outro defende. O time que está atacando pode marcar pontos (corridas ou "runs", em inglês) avançando pelas quatro bases do campo. Para correr entre as bases, o jogador precisa rebater a bola (jogada pelo oponente) o mais longe possível e correr antes que seus oponentes na defesa possam resgatá-la.
Quando o outro time pega a bola, o avanço precisa parar e só pode continuar se outro colega do mesmo time rebater a bola — se alguém resgata a bola enquanto um jogador está correndo, ele é eliminado. O jogo inverte (isto é, o time do ataque vai para a defesa e vice-versa) quando três rebatedores são eliminados.
Uma volta de ataque e defesa consiste em uma entrada, as nove que compõem um jogo profissional de beisebol (sete no softbol). Quem já assistiu um jogo decisivo da World Series (a final do campeonato dos Estados Unidos) sabe que essas nove entradas podem levar horas! Além disso, se as nove (ou sete) entradas terminarem em empate, novas entradas vão ocorrendo até um time sair vencedor.
O que explicamos aqui são as regras básicas do jogo, é claro, uma vez que existem vários outros detalhes. Mas já deu para entender como funciona, né?
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Você deve ter reparado que são duas modalidades: beisebol e softbol. Mas qual a diferença entre elas e por que existem duas?
Muita gente acredita que a diferença entre beisebol e softbol é que um é para homens, outro para mulheres e só isso. Na prática, essa acaba sendo uma diferença mesmo, uma vez que cada gênero só pode praticar uma das modalidades nas Olimpíadas e, de modo geral, as ligas profissionais de softbol são majoritariamente femininas. Mas há distinções nas regras que vão além disso.
A questão é que o softbol foi criado no final do século XIX para ser uma versão mais leve (soft significa leve) do beisebol, que pudesse ser jogada em quadras fechadas.
Para isso, o campo é menor (raio de 68 m x 60 m), com bases mais próximas (27 m de distância x 14 m) e a bola é maior (cerca de 23 cm x 30 cm). Além disso, como dissemos acima, um jogo de beisebol tem nove entradas, contra sete do softbol. Tudo isso faz com que as partidas do softbol sejam bem mais rápidas, exigindo menos esforço físico dos atletas. Também há mais regras para o arremesso e roubo de bases (algo mais livre no beisebol), que evitam choque entre atletas no campo e a exaustão física.
Desse modo, a adoção do softbol por mulheres acabou sendo natural para lidar com as diferenças anatômicas existentes. Mas os esportes podem ser jogados por pessoas de ambos os sexos — inclusive, o formato mais rápido do softbol é bem popular em ligas amadoras ou como esporte recreativo.
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Voltando ao nosso assunto inicial, o beisebol e o softbol voltaram às Olimpíadas agora em Tóquio — o que faz todo sentido, já que o esporte é um dos mais populares no país e no extremo oriente, de modo geral. Além disso, o beisebol/softbol é bem conhecido nos Estados Unidos, além da América Latina e Caribe.
Dito isso, o beisebol foi esporte de demonstração em vários Jogos Olímpicos, desde St. Louis 1904, mas só entrou no programa oficial em Barcelona 1992. No começo, apenas jogadores amadores podiam competir na modalidade, de modo que os Estados Unidos e outros países enviavam atletas de universidades.
Cuba se destacava nesse cenário, já que os melhores jogadores do país tinham outros empregos e, por isso, eram considerados amadores. Em 2000, profissionais passaram a ser permitidos, mas a liga de beisebol norte-americana (MLB) se recusava a liberar seus jogadores — e Cuba continuou dominando. O país latino-americano tem três medalhas de ouro e duas de prata em cinco torneios olímpicos. Já no softbol, modalidade olímpica em quatro edições, são três ouros e uma prata para os Estados Unidos.
(Fonte: UOL/Reprodução)
A ausência dos melhores jogadores foi um dos motivos para que o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidisse cortar as modalidades, depois de Beijing 2008. Afinal, se os melhores do mundo não competem, para que deixar o esporte nas Olimpíadas? Além disso, poucas seleções competem (seis em cada modalidade), com um formato bem confuso no torneio (todas os times passam da fase de grupos, por exemplo).
As novas regras do COI permitem que alguns esportes entrem em edições específicas das Olimpíadas sem entrar no programa definitivo — foi essa brecha que o Japão usou para incluir o beisebol/softbol, que são bem populares por lá. Vários jogos estão sendo disputados em um estádio de Fukushima para mostrar a recuperação da região, após o desastre de dez anos atrás.
Mas em Paris 2024, nada de tacadas. Quem sabe, a modalidade volte em Los Angeles 2028. Até lá, se você ficou interessado na modalidade, ainda dá para curtir os torneios em Tóquio 2020, assistir aos jogos da MLB e tentar praticar o esporte aqui no Brasil.