Artes/cultura
03/04/2022 às 05:00•2 min de leitura
Em 1946, na véspera do primeiro aniversário de libertação da Itália do fascismo, a obsessão do jornalista neofascista Domenico Leccisi, então com 25 anos, o levou a cavar a sepultura não identificada onde o corpo do monstruoso Benito Mussolini foi enterrado. Naquele dia, ele e um grupo de jovens roubaram o cadáver, dando início a uma perseguição policial até que fosse finalmente encontrado.
Se o cadáver de Mussolini e sua própria trajetória não fossem algo tão profano, provavelmente esse acontecimento teria entrado para a História. Contudo, esse tipo infame de roubo de corpos foi atribuído ao que aconteceu com o "queridinho de uma nação e do cinema mudo" do século XX: Charles Chaplin.
Ainda que o homem esteja longe de ter sido um anjo, porém nem minimamente perto do monstro que o genocida italiano Mussolini foi, o desaparecimento de seu cadáver foi um escândalo histórico.
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(Fonte: Central Press/Getty Images)
Em 25 de dezembro de 1977, no cemitério da vila suíça de Corsier-sur-Vevey, nas colinas acima do Lago Genebra (Lausanne, Suíça), foi repousado eternamente o corpo de Charles Chaplin, que fez história no cinema mudo da Hollywood do final dos anos 1920, causando uma comoção mundial.
Dois meses depois, em 1 de março de 1978, o refugiado polonês e mecânico de automóveis de 24 anos, Roman Wardas, e o búlgaro Gantscho Ganev, de 38 anos, escalaram a colina até o cemitério onde estava Chaplin e roubaram seu cadáver da sepultura.
(Fonte: Reprodução)
Imediatamente, os dois entraram em contato com Oona Chaplin, viúva do ator, pedindo um resgate de cerca de US$ 600 mil. Ela se recusou a pagar, alegando que seu marido teria considerado a exigência ridícula, então os criminosos passaram a ameaçar os filhos dela, considerando sequestros e até mesmo assassinato.
A investigação da polícia começou assim que a situação ficou séria, e os agentes passaram a monitorar a região. Após 5 semanas de trabalho, eles conseguiram prender os dois homens, que foram levados ao Tribunal Distrital de Vevey para serem julgados, em 12 de dezembro de 1978.
(Fonte: Central Press/Getty Images)
O caixão com o corpo de Chaplin foi encontrado enterrado em um milharal nas proximidades do Lago Genebra pela polícia e devolvido ao seu local de descanso original, dessa vez em uma tumba de concreto à prova de roubo.
Segundo o depoimento de Wardas, ele decidiu roubar o cadáver de Chaplin para resolver seus problemas financeiros, após ser inspirado por uma reportagem sobre um caso semelhante na Itália. Para isso, recorreu ao amigo Ganev para realizar o crime.
Ele negou ter sentido vergonha pelo ato, justificando seu desespero como algo maior. “Deixei meu país para ser livre, mas achei difícil conseguir um trabalho estável na Suíça”, disse Wardas em resposta a uma pergunta do presidente do tribunal, Roland Chatelain.
(Fonte: Getty Images)
Wardas confessou que tinha planos de esconder o caixão mais fundo na cova original, mas a chuva intensa o impediu, pois a terra ficou muito pesada. A solução foi enterrá-lo em outro lugar, então o transferiu no carro de Ganev até encontrar o milharal, a 20 quilômetros do cemitério.
Em sua defesa, Ganev disse que só seguiu com o plano porque acreditava que os riscos de serem pegos eram mínimos, mas ficou alarmado com a repercussão do caso, o que o fez não tomar parte no momento das ameaças.
A sessão daquele dezembro de 1978 terminou com Wardas condenado a 4 anos e meio de trabalho forçado, e Ganev recebendo uma sentença de 18 meses, pois foi comprovada a sua participação limitada no crime.