Artes/cultura
24/04/2022 às 05:00•2 min de leitura
Até que Robert Koch anunciasse a descoberta do agente causador da tuberculose, o bacilo de Koch, em 1882, foi um marco fundamental para o conhecimento da doença e futuras tentativas de controle e tratamento — a bactéria foi a causa de mais mortes em países industrializados do que qualquer outra doença ao longo do século XIX e início do século XX.
Estima-se que entre 70% a 90% da população urbana da Europa tenham se infectado com o bacilo, dos quais 80% deles desenvolveram a doença ativa e morreram. No início dos anos 1800, a tuberculose havia matado uma em cada sete de todas as pessoas que já viveram, fazendo a população buscar cura até em sanatórios, acreditando que o clima ameno e a paisagem bucólica faria alguma diferença no curso da doença.
Até o final do século XX, foi estimado 7,6 milhões de novos casos em países em desenvolvimento e 400 mil em nações industrializadas. O poder de deflagração da doença alterou vários aspectos da sociedade, indo da economia, passando pela arquitetura e chegando na moda.
(Fonte: Heritage Image Partnership Ltd /Alamy)
A Paris Fashion Week de 2022 mostrou o quanto a pandemia da covid-19 influenciou e mudou a vida de todos, desde como nos vestimos até como fazemos compras, deixando muita roupa casual no guarda-roupa devido à quarentena em casa. Alternativas mais confortáveis e caseiras, resgatadas até mesmo dos anos 2000, são a atual tendência para a moda.
Quando a tuberculose atingiu os vitorianos na Europa, a doença ganhou apelidos como "consumo", devido à quantidade de peso que os enfermos perdiam, e "peste branca" pela aparência extremamente pálida que adquiriam.
(Fonte: Wellcome Images/Wikimedia Commons)
Em uma época em que parecer pálido era sinônimo de riqueza, visto que as mulheres não se expunham a trabalhos ao sol, a pele nessa tonalidade, a cintura fina, lábios e bochechas coradas devido à temperatura febril do corpo — se tornaram atrativos.
Conforme a medicina foi entendendo melhor a transmissão dos germes, as mulheres chegaram à conclusão de que não era higiênico arrastar o lixo das ruas cobertas de cuspes para casa, na bainha de seus longos e pesados vestidos. Foi nesse momento em que a moda os encurtou e eliminou caudas pela primeira vez na História, um passo essencial para a modernidade e conforto feminino.
(Fonte: Wikimedia Commons)
No entanto, a maquiagem branca que aparentava um rosto doente e os espartilhos que deixavam as mulheres mais magras e as impossibilitavam de respirar direito, caíram em desuso porque a moda notou que imitar o estado de uma pessoa doente poderia ser agourento.
Foi assim que nasceram os "espartilhos de saúde", mais flexíveis e sem a pressão que esmagava a cintura da mulher. Eles foram complementados com saias volumosas que davam o efeito de uma cintura mais fina pelo seu corte de tecido.
Visto que a doença fazia as mulheres parecerem muito mais fracas do que a sociedade já as achava, os tecidos leves deram lugar a materiais mais grossos e resistentes para mantê-las em pé.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Contudo, as mulheres não foram as únicas vítimas da moda. Os homens adotaram visuais diferentes ao rasparem suas longas barbas e costeletas pela primeira vez em muito tempo para evitar que saliva se acumulasse nelas e carregasse a bactéria. Fora isso, a moda para eles adquiriu um aspecto sombrio, para evocar uma aparência mais séria, refletindo a delicadeza do momento sem toda a vivacidade georgiana.
Mas a Era Vitoriana não foi a última vez que a moda romantizou uma doença devastadora, na década de 1990, a ascensão da "heroína chique" despertou o mesmo desejo europeu de parecer doente e frágil para tentar evocar uma aparência nobre.