Ciência
12/06/2022 às 06:00•2 min de leitura
Uma nova onda tem angariado cada vez mais adeptos no mundo inteiro. O chamado "movimento antitrabalho" se apoia em uma profunda desilusão com os sistemas trabalhistas, em que muitos funcionários sentem usufruir de péssimas condições e ser impedidos de equilibrar sua vida pessoal e profissional.
Dados de 2021 do Bureau of Labor Statistics mostraram que, somente no mês de agosto, 4,3 milhões de americanos pediram demissão de seu trabalho sem ter outras perspectivas.
Algumas dessas pessoas relatam estar profundamente desiludidas com os trabalhos que realizam. Além disso, a sobrecarga de horas exigidas pelas empresas por salários baixos acarretam cada vez mais casos de burnout.
Leia também: Dilema da filosofia: é possível separar vida pessoal e profissional?
(Fonte: Unsplash)
O fenômeno, que também tem sido chamado de "Grande Demissão" ou "Grande Resignação", prega uma maior consciência sobre os propósitos do trabalho que a maioria de nós executa. Um dos lemas de quem defende essa ideia é "desemprego para todos, não apenas para os ricos" — o que revela uma noção de que os mais pobres costumam trabalhar para sustentar riquezas das quais eles não usufruem.
O movimento busca apoio em teóricos anarquistas como Paul Lafargue e Bob Black, e critica sobretudo as sobrecargas necessárias para subir na carreira — uma máxima do mundo capitalista, baseado na ideia de meritocracia.
“O movimento defende que os funcionários deixem o local de trabalho e se concentrem no que é realmente importante para eles”, explica Leah Lambart, uma consultora de carreiras da Austrália.
Vale lembrar que a ideia do movimento antitrabalho não é que o trabalho deixe de existir, mas sim que ele seja repensado e reorganizado. Quem apoia o movimento acredita que a maior parte das pessoas trabalha muito mais que o necessário e nunca colhe os frutos do que faz — que, quase sempre, serve apenas para gerar um excesso de bens desnecessários e fazer os ricos lucrarem ainda mais.
(Fonte: tomazl/Getty Images)
A discussão sobre o excesso de trabalho não é nova, mas ela se intensificou ainda mais com a pandemia, em que as rotinas de quase todas as pessoas foram modificadas. O aumento do trabalho remoto mostrou que muitas vezes é possível fazer a mesma coisa em menos tempo, o que torna questionável a lógica trabalhista avaliada pelas horas passadas dentro de uma firma.
Algumas empresas, inclusive no Brasil, estão propondo o uso de novos métodos e novas métricas para lidar com isso. Uma agência de comunicação brasileira chamada Shoot, por exemplo, está testando uma redução na carga horária de seus funcionários para 4 dias na semana e 6 horas diárias.
“Percebemos nos últimos dois anos que todo mundo estava muito cansado, mesmo com uma carga horária considerada normal. Os funcionários chegavam sempre exaustos na segunda-feira, mesmo após o fim de semana, e começamos a nos questionar como poderíamos mudar isso”, disse o sócio Luciano Braga para a CNN Brasil.
O fato é que este fenômeno chama a atenção para a necessidade de se discutir a qualidade dos ambientes de trabalho e do tempo despendido nas empresas. O que se evidencia é que muitas pessoas estão aguentando situações péssimas por conta dos salários.
A professora Kate Bronfenbrenner, que leciona educação trabalhista na Universidade Cornell, explica melhor. "Os trabalhadores vinham mantendo um limite espantoso de tolerância a abusos praticados pelos empregadores contra eles. Mas, quando esse abuso avançou ao ponto de arriscar suas vidas, esse limite foi ultrapassado", pontuou para a BBC.