Ciência
13/07/2022 às 11:16•2 min de leitura
Um documentário tem reavivado a história de um bar de lésbicas que provavelmente é o mais antigo da história. No bairro de Chelsea, localizado em Londres, um bar chamado Gateways funcionou entre 1943 e 1985 e foi por décadas um ponto de encontro entre mulheres gays.
O bar ficava na 239 Kings Road e só era acessado por pessoas que sabiam a senha (a palavra "Dorothy"). Para muitas mulheres, era uma chance de encontrar um espaço de aceitação não apenas de sua sexualidade, mas de sua própria identidade.
(Fonte: Flashbak)
O documentário, que se chama Gateways Grind e foi dirigido por Jacquie Lawrence, resgata uma parte da história das mulheres lésbicas que, segundo a diretora, costuma ser negligenciada em comparação à história dos homens gays.
O bar já apareceu em filmes (foi em Triângulo Feminino, de 1968) e foi cobiçado por gente famosa como Mick Jagger (que queria ir ao bar usando um vestido). Mas durante os anos que funcionou, ele foi alvo de muita perseguição pela vizinhança - o que não desanimava as frequentadoras.
O Gateways começou quando um sujeito chamado Ted Ware ganhou o direito de alugar o espaço em 1943. Ele ofereceu o local para suas amigas lésbicas que antes administravam um bar chamado Bag O'Nails, mas que haviam sido banidas do lugar.
Ted não deixou de ser o dono do local, e quando se casou com a atriz Gina Cerrato em 1953, o casal começou a administrar o bar. Para gerenciar o espaço, Gina chamou Smithy, uma mulher lésbica que diziam ser sua amante (posteriormente Gina disse à sua filha de que elas nunca ficaram juntas — e a razão é porque Smithy não queria).
O bar era um local em que as mulheres gays londrinas se sentiam acolhidas, já que não podiam usar calças em público nem ir a pubs sem a companhia de homens, pois seriam incomodadas. O Gateways funcionava até 22h e depois disso ninguém mais podia entrar.
Aliás, mesmo sendo um bar de lésbicas, havia algumas regras bem rígidas sobre demonstrações de afeto. Beijar era proibido - a não ser que ocorresse de forma escondida no banheiro. As clientes que chegavam obedeciam um código de conduta: precisavam se identificar como butch (lésbicas mais masculinas) ou femmes (mais femininas) e se comportar como tal.
(Fonte: The Guardian)
O bar chegou a receber algumas celebridades da época. Dentre as frequentadoras estavam a escritora Patricia Highsmith, a poetisa Trudy Howson e a ativista Lisa Power (uma das organizadoras da Revolta de Stonewall). Mick Jagger era conhecido de Gina e queria a todo custo entrar no clube.
A filha de Gina Cerrato (que morreu em 2001) declarou ao jornal The Observer: "minha mãe ficava fora do bar fazendo alguma coisa e às vezes Mick Jagger parava para conversar. Ela me contou: 'ele queria entrar no bar, mas eu não deixei. Ele dizia que iria usar um vestido, mas eu respondi que era apenas para mulheres'".
A presença do bar durante 10 minutos do filme Triângulo Feminino, do diretor Robert Aldrich, também trouxe mais fama ao Gateways. Aldrich pagou frequentadoras para que aparecessem dançando e bebendo, ao invés de contratar figurantes.
Talvez a parte mais curiosa é que, mesmo sendo um bar gay, os donos se recusavam a assumir qualquer posição política no local. Quando a escritora Elizabeth Wilson quis distribuir panfletos favoráveis à Frente de Libertação Gay, ela foi expulsa do Gateways.
Segundo relatos, a intenção de Gina era não deixar o bar (nem os donos) aberto à perseguição política. Sobre esta questão, a filha de Gina e Ted Ware (que também se chama Gina!) declarou ao The Guardian: “Gateways não era um bar político. Ser lésbica era sua posição padrão", explicou.