Artes/cultura
24/07/2022 às 09:00•2 min de leitura
No dia 19 de abril de 1966, Bobbi Gibb entrou para a história ao correr a Maratona de Boston. Se hoje isso pode parecer algo quase banal, há quase cinquenta anos era praticamente impensável. Naquela época, as mulheres eram proibidas de participar de corridas de longa distância.
A primeira edição dos Jogos Olímpicos a contar com uma prova feminina de maratona aconteceu em 1984, em Los Angeles. Antes disso, algumas provas passaram a autorizar a presença de mulheres — na Maratona de Boston, isso aconteceu a partir de 1972. Porém, até Bobbi Gibb se esconder para poder participar da corrida, isso era um feito inimaginável.
(Fonte: Fred Kaplan/Sports Illustrated/Getty Images)
Quando Gibb se inscreveu para participar da Maratona de Boston, sua presença foi negada pela direção da prova. A justificativa era que mulheres seriam fisicamente incapazes de correr longas distâncias e a autorização seria uma irresponsabilidade médica.
Gibb já planejava participar da maratona há dois anos. Ela vinha treinando, sem saber da proibição, mesmo sem treinador ou um calçado apropriado. Como mulheres não costumavam participar de provas de atletismo, não existiam tênis adequados para elas. Por isso, ela optou por utilizar um sapato de enfermeira, que era o mais confortável que encontrou na época.
No dia da prova, sabendo que se fosse vista no meio dos participantes homens, ela seria removida do local, Gibb se escondeu em um arbusto e esperou o início da prova. Ela estava vestindo bermudas de seu irmão e um moletom com capuz para que fosse mais difícil de ser reconhecida. Quando a corrida começou, ela pulou na multidão de homens correndo e se juntou a eles.
Bobbi Gibb após concluir a Maratona de Boston.
Conforme avançava na prova, Gibb começou a sentir muito calor, mas não tirou o moletom. “Eu sabia que se eles me vissem, tentariam me impedir. Até pensei que poderia ser presa”, ela afirmou durante uma entrevista. Mas, mesmo com o seu disfarce, não demorou para que os homens ao seu redor percebessem que Gibb era uma mulher. Seu medo é que eles fossem hostis e a empurrassem para fora. Para seu alívio, isso não aconteceu e eles a incentivaram a permanecer na prova.
Se sentindo mais confiante, Gibb tirou o moletom e, para sua surpresa, quando os espectadores perceberam uma mulher correndo, começaram a aplaudir. Conforme a notícia se espalhou, as pessoas — principalmente mulheres — foram até a linha de chegada para vê-la concluir a prova. O então governador de Massachusetts, John Volpe, a cumprimentou após a corrida.
(Fonte: Maddie Meyer/Getty Images North America)
“Eu sabia que a pior coisa que poderia acontecer seria não terminar a prova… Eu estava fazendo aquela declaração pública. Se eu tivesse desmaiado ou não tivesse terminado, teria atrasado as mulheres por mais 50 anos”, ela disse depois. Já no ano seguinte, em 1967, Kathrine Switzer se tornou a primeira mulher a participar oficialmente — com um número — da prova. Mas foi apenas em 1972 que a Maratona de Boston foi oficialmente aberta para mulheres. Apesar disso, Gibb retornou em 1967 e 1968 junto com outras competidoras.