Artes/cultura
16/08/2022 às 08:05•2 min de leitura
Nas mais variadas épocas da nossa história surgiram mulheres que não se deixaram intimidar e lutaram bravamente pelos seus direitos. Para muitas, tal luta significou a morte, como foi com Marie Gouze (1748 – 1793), ou Olympe de Gouges, pseudônimo que passou a usar após a morte do marido.
Em 1971, Olympe escreveu a mais famosa de suas publicações intitulada Os Direitos da Mulher (algumas vezes também citada como a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã). Em certo trecho da obra ela diz que: “Se a mulher tem o direito de subir no cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de subir à tribuna.”
(Fonte: Wikipedia/ Reprodução)
A insistência de Gouges em lutar contra aquilo que ela considerava errado ou inadequado fez dela uma das raras mulheres a serem executadas por questões políticas durante a Revolução Francesa.
De Gouges, além de ser uma defensora dos direitos das mulheres, era ativista, feminista e dramaturga. Ficou viúva ainda na adolescência, aos 16 anos.
A partir daí, adotou definitivamente o nome Olympe de Gouges e conseguiu se mudar para Paris graças a um rico empresário que pagou suas dívidas e do qual recebia uma mesada, desde que cumprisse o trato de nunca mais se casar.
(Fonte: Wikipedia/ Reprodução)
Na capital francesa, a jovem se dedicou a estudar as obras dos filósofos iluministas. Embora se esforçasse, não demorou muito para descobrir os limites impostos pela sociedade às mulheres do século XVIII.
Por várias vezes, tentaram impedi-la de escrever suas peças, sem contar que a chamavam de analfabeta por não possuir formação, apesar de todo talento e inteligência que demonstrava como uma autodidata.
Mas, em 1780, de Gouges conseguiu se consolidar como dramaturga, época em que suas peças começaram a ser encenadas.
Como era de se esperar, chocou a sociedade, pois, além de não publicar anonimamente obras focando em questões domésticas, como fazia outras dramaturgas da época, de Gouges usava seu talento para a escrita para falar de questões políticas, principalmente da injustiça praticada contra as mulheres.
Entre suas obras com mulheres sendo protagonistas, Gouges escreveu a primeira peça francesa abordando de forma crítica a escravidão, algo que considerava desumano. A peça causou tanta polêmica que a dramaturga chegou a ser apontada por muitos como a responsável por dar início a revolução haitiana.
Ao longo de sua vida, Olympe De Gouges publicou dois romances, 40 peças e 70 panfletos políticos, sendo a controvérsia e a polêmica o principal tempero de vários deles.
Falou sobre divórcio, igualdade, divisão de bens, direito de filhos ilegítimos, responsabilidades do casal e muitos outros temas espinhosos para o período.
A Declaração dos Direitos da Mulher, escrita como uma clara e incisiva contraofensiva à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, foi a publicação que começou a pavimentar seu caminho para a guilhotina.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Fonte: Ambafrance/ Reprodução)
No panfleto, a dramaturga e ativista política fez um paralelo entre o que considerava o direito feminino e aquilo declarado como "direito dos homens", criticando de forma aberta a maneira como os deputados haviam deixado as mulheres de lado.
Ou seja, o lema “Igualdade, Liberdade, Fraternidade”, só era válido para o sexo masculino.
Ela dirigiu a publicação à rainha Maria Antonieta, aproveitando para alertar a soberana que se ela não trabalhasse para a Revolução correria o risco de destruir a monarquia por completo. Também encaminhou o documento para diversos políticos, sendo ignorada por eles.
Olympe ainda fez questão de anexar a Declaração da Mulher, uma espécie de contrato de casamento, no qual era exigida a partilha comunal da propriedade.
Ficou do lado dos girondinos moderados na briga contra o partido dos montanheses. Além de defender Luís XVI, exigiu que um plebiscito fosse realizado para que os franceses escolhessem a forma de seu governo.
Os girondinos caíram em 1793. Com isso, de Gouges acabou presa e submetida a um julgamento simulado. Em 3 de novembro do mesmo ano, foi morta na guilhotina.