Limpador de chaminé: o trabalho infantil que explorava e matava

28/08/2022 às 11:003 min de leitura

Com o início da Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII, em 1760, na Inglaterra, a mineração de carvão aconteceu em larga escala, pois foi usado para aquecer as casas do extremo frio e se tornou um dos principais produtos que movia a nova máquina de comércio como fonte primária de energia e transporte.

O excesso de uso do carvão pelo setor doméstico e industrial fez de Londres uma cidade nebulosa e perigosa. A queima de produtos químicos e combustíveis fabris aumentou a poluição do ar e da água, resultando no aumento de chuva ácida, bem como riscos de incêndios. 

Em setembro de 1666, a cidade ardeu em chamas, acumulando um prejuízo de 70 mil residências destruídas pela falta de controle na manutenção de uma chaminé. A regulamentação delas passou a ser levada a sério, começando pela exigência de que as chaminés fossem construídas mais estreitas e limpas com frequência.

Foi então que surgiu o trabalho dos limpadores de chaminés, e com isso todas as agruras da profissão, incluindo a exploração em massa do trabalho infantil.

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Miséria, dor e morte

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Os limpadores eram contratados sempre que o interior de uma chaminé ficava entupido ou parcialmente bloqueado com acúmulo de fuligem pegajosa que não se soltava facilmente das paredes de pedra, sendo necessária uma raspagem. Para isso, eles tinham escovas com cabos compridos aparafusados em varas de extensão. Contudo, quando elas ficavam presas na chaminé, esse era o momento de chamar as crianças.

Em meio à pobreza extrema, o trabalho infantil foi uma das características daquele século, e empresas como a Master Sweeps compravam crianças de orfanatos ou acolhiam sem-tetos entre 5 e 10 anos para que subissem nas chaminés ou limpassem depósitos de fuligem. Para recrutar o máximo de limpadores mirins, os denominados "mestres limpadores" também caçavam famílias famintas à margem da sociedade para empregar suas crianças, prometendo tirá-los da miséria.

O trabalho envolvia todos os tipos de abusos, fazendo as crianças trabalharem à exaustão, se alimentarem de migalhas e dormirem em porões úmidos com infestações de ratos, onde muitos contraíram doenças e morreram. A agrura da profissão lesionou as crianças, que tiveram uma escova de arame duro amarrada à pele para que fortalecesse seus cotovelos e joelhos, aumentando seu desempenho nas chaminés. Isso criou calos grossos e feridas supuradas, um convite às infecções.

(Fonte: History Daily/Reprodução)(Fonte: History Daily/Reprodução)

Se as crianças não morressem nesse momento, então ainda tinham a chance quando estavam em uma chaminé, porque era comum que entalassem. Nesse caso, a estrutura precisava ser demolida para retirá-las, mas dificilmente elas saíam com vida.

Quando George Brewster, de 12 anos, morreu enquanto limpava uma chaminé, a opinião pública decidiu se indignar com o trabalho infantil. William Wyer, empregador do menino, foi condenado por homicídio culposo e houve uma pressão enorme para que fosse estabelecida uma legislação sobre o uso de crianças como limpadores de chaminés.

A mudança do século

(Fonte: Pam Lecky Books/Reprodução)(Fonte: Pam Lecky Books/Reprodução)

Em 1833, o Parlamento britânico proibiu o emprego de crianças menores de 9 anos em fábricas através da Lei das Fábricas, também limitando as horas que as crianças entre 9 e 13 anos podiam trabalhar. No ano seguinte, foi aprovado o Ato de Varredores de Chaminés, proibindo que fossem contratados meninos com menos de 10 anos e qualquer criança sem o consentimento dos pais, para servir como aprendiz de limpador de chaminé ou exercer o trabalho para terceiros. Ainda, qualquer menor de 14 anos estava proibido de entrar em uma chaminé.

A lei foi a primeira que revisou as condições sob as quais uma criança deveria trabalhar e viver, decidindo, inclusive, que frequentassem a igreja todos os domingos. Apesar disso, a exploração infantil continuou acontecendo, ainda que com mais cautela. Enquanto isso, os meninos maiores que não eram resguardados pela lei sofreram o dobro com a demanda de trabalho, tendo a saúde gravemente afetada.

(Fonte: CTSweep/Reprodução)(Fonte: CTSweep/Reprodução)

Entre doenças respiratórias e infecções oculares que causavam até cegueira, os jovens acabavam desfigurados pelo contato com o calor intenso e queimaduras, e tinham o crescimento de seus ossos prejudicado devido às posições desconfortáveis que precisavam ficar nas chaminés estreitas.

Tornou-se comum também que muitos jovens desenvolvessem um tipo de câncer escrotal, conhecido como "câncer do limpador de chaminés", se tornando o primeiro caso da doença no setor industrial. A maioria dos ex-limpadores não chegaram nem aos 50 anos de vida.

Foi só em 1864 que entrou em vigor a Lei de Regulamentação dos Limpadores de Chaminés proibindo que crianças e jovens fossem usados na prática de limpar chaminés.

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