O primeiro acidente de carro no Brasil foi a 4 km/h

22/09/2022 às 10:002 min de leitura

Foi no início da década de 1920, que o estado de São Paulo recebeu as primeiras filiais das fábricas da Ford e General Motors, se tornando o primeiro lugar do Brasil a começar a impulsionar a indústria automotiva que já ganhava forçava nos Estados Unidos. Antes disso, Alberto Santos Dumont, o pai da aviação, já havia circulado pelas ruas brasileiras com um veículo movido a gasolina, no final do século XIX. Era um modelo Peugeot Type 3 Vis-a-Vis, conhecido na França como Peugeot Voiturette.

Entre 1920 e 1939, o número de carros em São Paulo foi de 5 mil para 43 mil, sendo que o país ainda nem havia começado sua era de transformações vitais que impulsionaram o Brasil para a modernidade.

Se você imaginou que foi durante esse período que aconteceu o primeiro acidente de carro no Brasil, bem, está enganado.

O carro do futuro

(Fonte: Autoentusiastas/Reprodução)(Fonte: Autoentusiastas/Reprodução)

Atualmente, existe quase 60 milhões de automóveis registrados no Brasil, conforme os dados da Secretaria Nacional de Trânsito do Ministério da Infraestrutura, mas a frota total está estimada em mais de 100 milhões. Apesar de todas as leis e restrições, esse número acaba sendo proporcional ao de acidentes, que subiu de 63.548 em 2020, para 64.441 em 2022.

Mas acidentes automobilísticos são crônicas diárias na história do Brasil desde 1897, quando a velocidade de um veículo motorizado a vapor não ultrapassava 4 km/h. O primeiro acidente aconteceu no Rio de Janeiro, em uma época em que nem sequer havia ruas asfaltadas, e envolveu o influente poeta Olavo Bilac, membro e fundador da Academia Brasileira de Letras.

Olavo Bilac. (Fonte: Brasil Escola/Reprodução)Olavo Bilac. (Fonte: Brasil Escola/Reprodução)

Na ocasião, ele guiava um Serpollet, inventado pelo francês Léon Serpollet, feito de uma tecnologia considerada "novidade" na Europa, por carregar um tipo de caldeira menor e mais controlável que movia o veículo com a produção de vapor.

O veículo chegou ao Brasil pelas mãos de José do Patrocínio, amigo de Bilac, que panfletou o carro como "um veículo do futuro". Para o homem, o carro foi o anunciava um futuro inevitável: a morte dos tílburis e até da estrada de ferro. As pessoas ficaram escandalizadas com o Serpollet, mas só Bilac teve a honra de ser convidado não apenas para dar uma volta, mas para dirigi-lo.

A batida

(Fonte: São Paulo Antiga/Reprodução)(Fonte: São Paulo Antiga/Reprodução)

Com Patrocínio sentado ao banco do carona, à esquerda, Bilac assumiu a direção sem nunca ter tido contato com um automóvel, e em uma era que não era preciso nenhum tipo de licença ou autoescola. Tudo o que o poeta recebeu foram as instruções de Patrocínio sobre como a invenção funcionava, e assim eles partiram de Botafogo rumo à Estrada Velha da Tijuca, no Alto da Boa Vista.

Mas antes mesmo da primeira curva, quando o Serpollet já havia atingido o auge de sua velocidade, os meros 4 km/h, Bilac perdeu o controle e, lentamente, foi em direção a árvore mais próxima. O impacto não machucou nenhum dos passageiros, porém foi o suficiente para destruir o carro.

Demorou até 1906 para que o público soubesse da história marcante, descrita no jornal Correio da Manhã. Nele, o desfecho foi esperado: o carro caríssimo e inovador foi parar em um ferro-velho, após ser guinchado do local onde se desmontou. O automóvel ficou encostado e serviu de abrigo até mesmo para as galinhas antes de encontrar seu destino.

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