A qualidade dos produtos caiu — o que estaria por trás disso?

10/01/2023 às 09:092 min de leitura

Muito se fala sobre os malefícios do consumismo e da perceptível queda no padrão de qualidade dos produtos que adquirimos. Mas será que de fato estamos refletindo sobre seus impactos? O que estaria por trás disso?

Antes de tudo, é necessário olhar para trás. Apesar de não haver um marco tão específico, visto que as relações de consumo movimentam a economia global há séculos, pode-se dizer que foi no pós-Segunda Guerra Mundial o momento em que o incentivo à aquisição de novos produtos passou a ocorrer de forma mais proeminente.

Com isso, produtos que poderiam ser enxergados como acessórios passaram, numa escala ainda maior, a serem usados para definir o status e a personalidade das pessoas. A TV criou a representação do sonho americano, criando um novo tipo de relação com os consumidores que gerou reflexos em outros países. 

Nesse sentido, um artigo publicado na Revista de Economia Pública, em 2022, relaciona as TVs ao maior consumo de bens duráveis em comparação com locais em que a sua presença era menor, nos Estados Unidos. Esse papel, hoje, é ocupado pelos smartphones, que têm nas redes sociais uma das suas principais ferramentas.

Mudança de cenário

(Fonte: Shutterstock/Reprodução)(Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Com a produção em larga escala e a busca pelos produtos de valor mais baixo, há duas consequências que se fazem imediatas: a redução no padrão de qualidade, já que um mercado consumidor veloz e atento às tendências também tem sede de novos produtos constantemente, e não há condições de atender a padrões mais elevados nessa escala.

A redução no valor da mão de obra também entra nisso. Este último fator, em específico, é o que leva empresas a se concentrarem em países como a China, que possuem mão de obra mais barata. Ou seja, na escolha pelo menor preço, sempre haverá alguém pagando por essa conta. Do ponto de vista econômico, também há outros fatores que afetam a qualidade. 

São eles: a crescente demanda de produtos e a própria presença de crises econômicas, que encarecem as matérias primas, já que elas são limitadas, fazendo com que um produto adquirido anos atrás pelo valor x tenha qualidade superior a de produtos similares na mesma faixa de preço atualmente. Afinal, quem estaria disposto a pagar mais?

Já no contexto ambiental, é esperado que até 2040, poderemos ter 37 milhões de toneladas de plástico despejados no oceano. Segundo um levantamento realizado pelas Nações Unidas em 2018, 99% dos produtos adquiridos pelas pessoas são descartados dentro do período de seis meses. Por ano, mais de 2 bilhões de toneladas de lixo são gerados.

O que poderia mudar

(Fonte: Shutterstock/Reprodução)(Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Segundo uma análise publicada no periódico Ecological Economics em 2019, estima-se que se as roupas e eletrodomésticos vendidos na Europa durassem mais, o impacto ambiental seria reduzido em aproximadamente 3% no continente. Ou seja, isentar as empresas da culpa pela busca excessiva por lucro, por sua vez, é tão ingênuo quanto subestimar os impactos que a constante busca por tudo aquilo que é novo desempenha na vida das pessoas. Afinal, há diversos fatores atuando na redução da qualidade dos produtos que são vendidos.

Como essa dinâmica complexa também permitiu tirar algumas lições, uma mudança, ainda que tímida, mas crescente, será bem-vinda. A expectativa é que a era da informação, que tornou o mundo tão conectado, também ajude na busca por novas soluções e ajude na promoção de reflexões mais realistas sobre as relações de consumo. Isso poderá influenciar os processos produtivos e contribuir com a formação de uma mentalidade coletiva que impacte de forma positiva as ações humanas no futuro.

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