Artes/cultura
06/05/2023 às 12:00•3 min de leitura
A coroação do Rei Charles III foi marcada para maio de 2023, cerca de 10 meses após a morte de Elizabeth II, sua mãe. Embora, oficialmente, Charles III já seja o rei desde a hora em que sua mãe faleceu, é tradição esperar algum tempo entre a morte do monarca anterior para coroar o próximo. A questão é que, nesse meio tempo, muita coisa pode acontecer.
Desde que Guilherme I, o Conquistador, foi coroado no longínquo ano de 1066, outros 39 reis e rainhas britânicos foram coroados — sempre na famosíssima Abadia de Westminster. Porém, dois homens que foram oficialmente reis não puderam participar até essa cerimônia: um deles morreu e outro abdicou.
A Abadia de Westminster, onde os reis da Inglaterra são coroados (Fonte: Wikimedia Commons)
No século XV, o Reino Unido ficou bem desunido em uma de suas mais sangrentas guerras pelo poder. A Guerra das Rosas, inclusive, é uma das principais inspirações para as brigas da série Game of Thrones. Imagina a confusão...
No ano de 1483, o rei Edward IV tinha conquistado vitórias importantes na Guerra das Rosas e mantido a coroa britânica em sua cabeça. Porém, ele faleceu e deixou o trono para seu filho, o rei Edward V — que tinha apenas 12 anos.
Como Edward V era menor de idade, um tio foi nomeado como protetor dele. Só que o duque de Gloucester fez tudo, menos proteger o sobrinho-rei.
A política britânica daquela época era muito instável. Então, o duque logo começou a brigar com outros membros da nobreza. Isso o motivou a organizar um golpe de estado, ordenando que seus inimigos fossem presos. Já o jovem rei foi trancafiado na Torre de Londres junto de seu irmão Richard, que era o outro herdeiro ao trono.
O Rei Edward V com seu irmão, em obra do século XIX (Fonte: Wikimedia Commons)
Enquanto isso, o duque de Gloucester fez uma grave denúncia: Edward e Richard não seriam filhos legítimos do antigo rei, Edward IV. Logo, não teriam direito de herdar a coroa.
Os dois nunca mais foram vistos com vida e muitos historiadores dizem que o duque — que era tio dos meninos — os matou. Assim, Edward V foi Rei da Inglaterra por apenas três meses, sem nunca ter sido coroado.
Quem usou a coroa no seu lugar foi o tio: o duque de Gloucester acabou proclamado como o novo rei, com o nome de Richard III. Mas ele só reinaria por cerca de dois anos, já que sofreu uma derrota e morreu numa das últimas batalhas da Guerra das Rosas.
A segunda história é bem mais recente e conhecida, acontecendo já no século XX. Quando o Rei George V faleceu, aos 70 anos, seu filho mais velho ascendeu ao trono. Só que Edward VIII gostava de se relacionar com mulheres casadas — e estava disposto a se casar com uma.
A americana Wallis Simpson se divorciou do segundo marido para poder se casar com o novo rei. O que o casal não contava era com a reação dos políticos e da sociedade britânica: como chefe da Igreja Anglicana, não pegaria bem para Edward VIII se casar com uma americana que mal tinha assinado os papeis do divórcio.
Edward VIII e Wallis Simpson (Fonte: Express/Express/Getty Images)
Edward até tentou negociar, mas seus conselheiros e os líderes religiosos não aprovaram suas propostas. Então, ele disse que preferia abdicar do que ficar sem Wallis Simpson.
Em 11 de dezembro de 1936, o rei Edward VIII fez um discurso para a nação, abrindo mão de seu reinado antes mesmo de ser corado. Foi assim que George VI ascendeu ao trono — e sua filha Elizabeth se tornou a monarca que usou a coroa britânica por mais tempo.
Como dito, Edward V e Edward VIII foram oficialmente reis, ainda que por pouco tempo. Mas, com reinados tão curtos, não houve nem tempo para a coroação.