As mortais corridas de barcos a vapor dos Estados Unidos do século XIX

05/08/2023 às 07:003 min de leitura

Em 22 de julho de 1894, aconteceu a primeira corrida de carros na história, conhecida como a "Corrida de carros entre Paris e Rouen", na França. Ela foi organizada pelo jornal parisiense Le Petit Journal e teve como objetivo demonstrar o potencial dos carros movidos a gasolina, promovendo também o desenvolvimento da indústria automobilística.

De lá para cá, essa prática só se tornou mais popular e hoje constitui uma indústria bilionária e mundialmente famosa, reconhecida pelos títulos da Fórmula 1, NASCAR, IndyCar, corridas de Endurance (como as 24 Horas de Le Mans), ralis e diversas outras.

Antes delas, eram as corridas de barco a vapor dos Estados Unidos, uma prática popular e perigosa.

Fulton, o precursor

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Os barcos a vapor foram um grande negócio, começando a partir da década de 1780 e emergindo como uma nova e viável forma de transporte. Ainda que o engenheiro estadunidense Robert Fulton não tenha sido o inventor verdadeiro, ele foi apelidado "pai da navegação a vapor" porque foi o único a comercializar com sucesso os barcos a vapor e os serviços que eles poderiam fornecer.

Com isso, o homem desempenhou um grande papel na transformação da embarcação a vapor para a indústria do transporte do século XIX. No verão de 1811, Fulton deu início às corridas ao pilotar o seu barco a vapor em alta velocidade e causar a primeira colisão. Apesar disso, a imprensa considerou a corrida "emocionante e revolucionária", estimulando a prática que nascia.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Mas o público foi a parte essencial para que o esporte desse certo. À medida que as corridas ganharam força, as pessoas começaram a vê-las como parte essencial até mesmo das viagens fluviais. Os passageiros esperavam que outro barco aparecesse e disputasse uma corrida para que pudessem comemorar a vitória.

As corridas se popularizaram tanto em demanda que os capitães começaram a medir seu valor pelo sucesso nas corridas. Os vencedores eram frequentemente premiados com medalhas e honrarias.

O grande problema

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

O mercado das corridas de barcos a vapor cresceu na mesma proporção que se tornou arriscado. A manipulação das válvulas das caldeiras, por exemplo, foi uma das práticas mais conhecidas e perigosas, visto que se abriam para liberar o excesso de pressão. Uma vez que a tripulação percebeu que isso diminuía a possibilidade de o barco ganhar mais velocidade durante as corridas, passaram a vedá-las.

Ao fazer isso, eles não só ganhavam mais velocidade, como também aumentavam as chances de explosão. Principalmente porque as equipes alimentavam ainda mais as caldeiras com todo o tipo de substância inflamável, mas nenhum barco era projetado para funcionar em condições tão extremas. Então, várias caldeiras estouravam, matando centenas de passageiros no processo.

Em 25 de abril de 1838, uma multidão viu o navio Mosela, conhecido e elogiado por sua velocidade excepcional, explodir repentinamente. Centenas de pessoas foram arremessadas do convés da embarcação, algumas para a água e outras para edifícios próximos à margem do rio. O barco, em funcionamento há cerca de um mês, foi reduzido a pedaços. Aproximadamente 150 pessoas morreram no acidente.

(Fonte: Hartford Steam Boiler/Internet Archive/Reprodução)(Fonte: Hartford Steam Boiler/Internet Archive/Reprodução)

Apesar dos perigos das corridas de barcos a vapor, o governo federal hesitou em agir porque a indústria das embarcações era vital para trazer riqueza aos EUA. A imposição de regulamentações poderia sufocar o mercado em crescimento, não fazendo bem para a economia crescente.

Até 1838, o governo apenas observou as pessoas morrerem nas corridas, esperando que o problema se resolvesse sozinho. Eles acreditavam que os lucros perdidos com as explosões, juntamente com o bom senso, seriam suficientes para regular a indústria de barcos a vapor – mas não foi o que aconteceu.

A primeira legislação específica imposta pelo governo exigia que todos os barcos a vapor fossem submetidos a pelo menos algumas normas de segurança, como passar por inspeções regulares e empregar engenheiros qualificados. Demorou até 1852, com a Steamboat Act, para que a prática começasse a ganhar um rumo que não envolvia acidentes e mortes em grande escala.

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