Estilo de vida
22/10/2023 às 11:00•2 min de leitura
Há 50 anos, um famoso arrombador de cofres entrou em um banco de Estocolmo com uma submetralhadora, uma faca, um rádio transmissor, explosivos e pedaços de corda. O nome do bandido era Jan-Erik Olsson e seu alvo era o Sveriges Kreditbank — um famoso banco na Suécia.
No entanto, Olsson não ficou exatamente conhecido por esse crime em questão, mas sim por protagonizar o surgimento de um dos "problemas psiquiátricos" mais curiosos de todos os tempos: a síndrome de Estocolmo.
(Fonte: Getty Images)
No dia 23 de agosto de 1973, o assalto de Olsson deveria durar apenas algumas horas. No entanto, o evento durou um total de seis dias e transformou a vida de todos os envolvidos. Durante o caso, o conselheiro psiquiátrico Nils Bejerot, contratado pela polícia para lidar com o impasse no Sveriges Keditbank, fez uma alegação diferente de tudo já escutado antes.
Segundo ele, Kristin Enmark, que tinha 23 anos quando o seu local de trabalho se tornou palco de um assalto mirabolante, teria forjado um vínculo emocional com o assaltante — o que implicaria em uma ligação sexual. Logo, a jovem sueca tornou-se o primeiro exemplo no mundo de síndrome de Estocolmo.
Agora, 50 anos depois, alguns pesquisadores acreditam que a condição pode nem mesmo existir. Enmark passou sua vida inteira afirmando não sentir nenhuma afinidade com o sequestrador e só fez o que era necessário para permanecer viva. Há quem afirme que o diagnóstico de "síndrome de Estocolmo" tenha sido criado para mascarar o ressentimento que a refém havia sentido pela polícia após a incapacidade de progredir nas negociações com os sequestradores.
Em diversos momentos, Enmark declarou ter medo do que os policiais poderiam fazer na cena do assalto — o que poderia acabar matando todos os presentes. Por isso, enquanto alguns especialistas declararam que o "medo da polícia" tido pela mulher era algo irracional e que só poderia ser explicado por uma síndrome, outra parcela de pesquisadores passou a questionar se o fenômeno foi de fato genuíno ou simplesmente uma relação imposta a uma mulher que lutava por sua sobrevivência.
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(Fonte: Wikimedia Commons)
Um dos casos mais famosos da suposta síndrome de Estocolmo aconteceu um ano depois do assalto de banco na Suécia. Em 1974, Patty Hearst, a neta de 19 anos de um rico magnata, foi raptada nos Estados Unidos pelo Exército Simbionês de Libertação. Dois meses depois, surgiram boatos de que Hearst havia se envolvido amorosamente com um de seus sequestradores.
A garota até mesmo declarou lealdade ao grupo rebelde tempos depois, denunciou sua família e posou para fotos carregando armas. Ela acabou sendo presa em 1975 e condenada a sete anos de prisão. Porém, até que ponto a síndrome de Estocolmo pode ser levada como uma doença real e justificativa para certos atos?
A verdade é que o problema não está listado como um diagnóstico sério pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana ou pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. Alguns especialistas questionam se isso é uma condição psicológica séria ou apenas uma estratégia de sobrevivência — uma escolha racional feitas por pessoas quando enfrentam perigos extremos.
Nos EUA, especialistas em aplicação penal afirmam que o fenômeno é raro e excessivamente divulgado por meios de comunicação, virando até mesmo enredo para livros, filmes e músicas. Logo, a maioria dos diagnósticos acabou sendo feito imediatamente pela própria mídia, e não por psicólogos ou psiquiatras, ou simplesmente para encontrar uma "explicação viável" para que reféns se sentissem insatisfeitos com a condução policial durante os sequestros prolongados.