Estilo de vida
13/01/2024 às 13:00•2 min de leitura
Em 1998, no topo de Suur Munamägi, o ponto mais alto da Estônia, o presidente do Círculo de Conservação da Natureza dos Estudantes de Tartu, Taavi Pae, teve uma brilhante ideia: esquiar mais de 25 km no sul montanhoso do país, com outros 39 estudantes, escalando os 20 picos mais altos da região no processo. Desde então, realizar o mesmo trajeto dos pesquisadores se tornou uma tradição para quem visita essa parte do mundo.
Como geógrafo iniciante, Pae foi surpreendido por tudo que observou na região. A missão estudantil conseguiu mapear novamente boa parte dos picos da Estônia e até mesmo atualizar a altura de algumas delas, desafiando todos os dados obtidos até aquele momento.
(Fonte: Getty Images)
Em termos gerais, a maior parte da Estônia é completamente plana. Mesmo em terras altas como Haanja, um conjunto de morenas, ou moreias, formadas pelo recuo de geleiras no sul do país, nada se compara com outros picos ao redor do planeta. Suur Munamägi, por exemplo, possui modestos 318 metros de altura. Logo, a topografia do país permite escalar todos os pontos mais altos da Estônia numa única e longa caminhada em um dia.
Os 20 picos mais altos da região estão concentrados num corredor com cerca de 8 km de comprimento e 2 km de largura. Assim, Pae e os pesquisadores da Universidade de Tartu traçaram um plano para registrar dados mais precisos em campo. Numa tentativa de divulgar a ciência por trás da medição das colinas, eles organizaram uma conferência de imprensa no sopé de Vällamägi. Em seguida, os 40 estudantes partiram para a exploração, com os esquis, as roupas de inverno e seus apetrechos de estudo.
Pegando seus dispositivos de GPS e calibrando a altitude de cada pico, Pae e seus colegas descobriram vários pontos de imprecisão nas pesquisas anteriores. Porém, além da correção de dados medidos por geólogos no passado, a missão dos pesquisadores também gerou algo ainda mais importante: uma tradição entre esquiadores que desejam visitar a Estônia.
(Fonte: Getty Images)
Depois que Pae e os outros cientistas publicaram seus primeiros artigos sobre a ciência por detrás da medição das montanhas na Estônia, o trajeto realizado por eles tornou-se famoso. Os estudantes, então, criaram um desafio: todos aqueles que conseguissem repetir o feito de esquiar pelos 20 picos da região em um dia ganhariam o título de Lumeilves, ou "Linces da Neve". O nome é uma homenagem a um prêmio concedido pela antiga União Soviética, que reconhecia os montanhistas que escalavam todas as cinco maiores montanhas da URSS — cada uma com mais de 7 mil metros de altura.
Desde aquela primeira conquista, o desafio tornou-se uma pequena tradição anual e uma espécie de rito de passagem para os entusiastas locais de atividades ao ar livre. Todos os anos, pessoas tentam completar o trajeto de forma independente ou em grupos. Nos anos de maior movimento, até 200 pessoas foram registradas realizando o desafio.
Após completar a viagem e voltar à civilização, a maioria dos aventureiros termina sua jornada em uma sauna para "curar" o frio impressionante da região. Afinal, nada como combater um dia intenso de frio com um banho de vapor quente.