A lenda das águas do lago Natron, que supostamente transforma animais em pedra

22/06/2024 às 14:002 min de leituraAtualizado em 22/06/2024 às 14:00

Nas vastas paisagens da Tanzânia, o lago Natron se destaca não apenas por sua beleza sobrenatural, mas também por suas características únicas e perigosas.

Esse lago alcalino, localizado na região de Arusha, perto da fronteira com o Quênia, é conhecido por sua coloração vermelha intensa e pelas condições extremas que tornam seu ambiente inóspito para a maioria das formas de vida. No entanto, é essa mesma hostilidade que cria um refúgio seguro para algumas espécies.

Composição química e adaptações especiais

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Lago Natron, na Tanzânia. (Fonte: Getty Images)

O lago Natron tem um pH extremamente alcalino, com níveis entre 10 e 12, devido à alta presença de bicarbonato de sódio e minerais vulcânicos, graças à atividade do vulcão Ol Doinyo Lengai. Essa composição química única resulta em uma água cáustica, de coloração avermelhada, que abriga uma diversidade de microorganismos adaptados.

Apesar das condições hostis, o flamingo-pequeno (Phoenicopterus minor) encontra no lago um refúgio seguro para reprodução, construindo seus ninhos em ilhas formadas durante a estação seca, inacessíveis para a maioria dos predadores.

Essas aves se adaptaram para se alimentar das algas e cianobactérias presentes na água salina e desenvolveram glândulas especiais para excretar o excesso de sal. Além delas, as tilápias Alcolapia alcalica também conseguiram sobreviver nas margens do lago, desenvolvendo mecanismos fisiológicos para lidar com a alta alcalinidade e as temperaturas extremas da água.

O fenômeno da calcificação e os perigos do lago

Flamingo petrificado no Lago Natron. (Fonte: Nick Brandt/Reprodução)
Flamingo petrificado no lago Natron. (Fonte: Nick Brandt/Reprodução)

O lago Natron ganhou fama por seu efeito petrificante sobre os animais que morrem em suas águas. Os altos níveis de bicarbonato de sódio podem levar à calcificação de aves e outros animais, preservando seus corpos em formas petrificadas.

Esse fenômeno foi amplamente documentado pelo fotógrafo Nick Brandt em seu livro "Across the Ravaged Land", onde ele captou imagens assombrosas de animais calcificados ao longo da costa do lago. Brandt reposicionou os animais em posições "vivas", trazendo uma nova perspectiva sobre a vida e a morte nesse local surpreendente.

Águia-pesqueira-africana petrificada pelas águas do lago Natron. (Fonte: Nick Brandt/Reprodução)
Águia-pesqueira-africana petrificada pelas águas do lago Natron. (Fonte: Nick Brandt/Reprodução)

A alta alcalinidade e as temperaturas extremas do lago o tornam um ambiente hostil para a maioria das formas de vida, com água cáustica capaz de causar queimaduras na pele e olhos de animais não adaptados. Apesar disso, o local abriga um próspero ecossistema de algas, cianobactérias e espécies adaptadas como os flamingos e as tilápias.

Com temperaturas que podem ultrapassar 38 °C, cria-se um ambiente sufocante e perigoso. Essas condições extremas servem como barreira natural contra a maioria dos predadores, porém também limitam a biodiversidade do lago. Mesmo assim, o lago Natron continua sendo um fenômeno natural fascinante, onde a vida encontra maneiras extraordinárias de prosperar em meio à adversidade.

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