Estilo de vida
01/09/2024 às 18:00•4 min de leituraAtualizado em 01/09/2024 às 18:00
A economia global está à beira do precipício, e foi o próprio homem com suas atividades de exploração que a conduziu a esse ponto. Cientistas do Banco Central Europeu e do Instituto de Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático divulgaram um relatório apontando que o aumento das temperaturas pode adicionar até 1,2 ponto percentual à inflação global anual até 2035.
Além disso, a Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação (UNCCD) observou que, até 2040, a seca deve afetar cerca de três quartos da população mundial, o que significa que a produção agrícola terá que aumentar em 60% para atender à demanda global de alimentos em 2050. Mas já estamos no limite de um sistema alimentar que está falido, do uso e abuso dos recursos naturais e da emissão de gases de efeito estufa. A cada ano, flertamos de maneira mais perigosa com as consequências catastróficas do aquecimento global.
O aumento exponencial das temperaturas está criando condições insuportáveis para as colheitas e trabalhadores, propiciando tempestades severas e secas prolongadas que estão afetando as cadeias de suprimentos e desnivelando o fluxo de comércio. Com isso, o mercado de risco e a incerteza estão aumentando, tornando a vida cada vez mais insustentável, desde manter um empreendimento comercial até colocar comida na mesa.
É por esse e outros fatores que moradores dos Estados Unidos estão se endividando para conseguir comprar comida.
Um relatório desse ano do Federal Reserve de Nova York apontou que os saldos totais de cartões de crédito nos EUA aumentaram 5,8% em relação ao ano anterior, para US$ 1,14 trilhão. Os arquivos de crédito da empresa Equifax, um dos três maiores bureaus de crédito dos EUA, observaram que, até junho, a inadimplência do cartão de crédito no país está aumentando, enquanto a inadimplência em empréstimos financeiros caiu.
Em meio aos números, também despencou o estereótipo de que os consumidores usam cartões de crédito para roupas, férias ou outros “luxos”, sendo que o novo destino do crédito está sendo para cobrir necessidades básicas, como comprar comida.
Analista sênior do setor do Bankrate, Ted Rossman disse que a taxa de crescimento da dívida de cartão de crédito acelerou porque os custos de vida estão cada vez mais insustentáveis para o norte-americano médio. O Índice de Preços ao Consumidor, uma medida da inflação, mostrou que, em julho, a habitação aumentou 0,4% e representou 90% do aumento daquele mês no índice de todos os itens.
O salto nos preços dos alimentos superou o aumento histórico de 20% no custo de vida que se seguiu à pandemia, colocando as famílias em todo o país em um verdadeiro gargalo financeiro, também contribuindo para um descontentamento econômico e político generalizado. Os americanos gastaram em média mais de 11% de sua renda em alimentos, o que configura uma proporção maior desde 1991.
Ao ser entrevistado pela BBC, um segurança de 26 anos chamado Dylan Garcia, morador do Brooklyn, disse que nunca lutou tanto para comprar comida. Em vez de alimentos frescos e itens de marcas que costumava gostar, ele agora investe em estocar macarrão instantâneo e vegetais congelados, além de só fazer duas refeições por dia porque não pode pagar por mais comida. Comprar mantimentos básicos com cartão de crédito o levou a dívidas exorbitantes.
O Urban Institute levantou que 33,4% dos adultos que usaram cartão de crédito para despesas básicas pagaram as cobranças integralmente, enquanto 20% dos adultos pagaram menos do que o saldo total. Por outro lado, 7,1% não fizeram os pagamentos mínimos de suas faturas. Atualmente, cerca de 70% de todas as transações de supermercado são feitas por meio de cartões de crédito ou débito.
A luta dos consumidores se intensificou depois que expirou o auxílio emergencial disponibilizado durante a era pandêmica, como parte do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP), fazendo o americano médio receber cerca de US$ 90 a menos em benefícios por mês.
Em ano de eleições para a presidência dos EUA, a inflação dos alimentos já apareceu na campanha eleitoral da candidata democrata Kamala Harris, que propôs proibir a manipulação de preços de alimentos por empresas, como parte de uma agenda mais ampla destinada a reduzir o custo de moradia, remédio e alimentos.
Durante o governo Biden, os preços dos alimentos dispararam 21%, resultado de uma inflação que elevou os custos gerais em cerca de 19%, para o desgosto dos americanos, apesar do desemprego ter despencado para mínimos históricos. Apesar de os salários terem aumentado acentuadamente desde a pandemia, o país ainda luta com o custo de vida alto.
"Todos nós sabemos que os preços subiram durante a pandemia, quando as cadeias de suprimentos fecharam e falharam", disse Kamala esse ano durante um comício em Raleigh, Carolina do Norte. "Mas nossas cadeias de suprimentos agora melhoraram e os preços ainda estão muito altos."
A manipulação de preços nos EUA se refere a picos de preços que acontecem durante uma interrupção no fornecimento, como após um desastre natural. Os varejistas aumentam drasticamente os preços de mantimentos básicos para prosperar sobre circunstâncias de vulnerabilidade. A prática já é restringida em vários estados do país, mas ainda não há nenhuma proibição federal.
Enquanto isso, Donald Trump, ex-presidente e candidato ao cargo novamente, nega que suas políticas que propõem uma tarifa de 10% sobre todos os produtos que entram nos EUA, pioraria o aumento dos preços. Segundo economistas, um segundo mandato de Trump teria um impacto negativo na posição econômica do país no mundo e um efeito desestabilizador na economia doméstica dos EUA.
Apesar disso, os eleitores seguem confiando mais no oponente de Kamala no que diz respeito a questões econômicas. Uma vitória de Trump nas eleições presidenciais de novembro pode levar a 4 bilhões de toneladas adicionais de emissões de gases de efeito estufa até 2030, causando danos climáticos globais acima de US$ 900 bilhões, com base nas últimas avaliações do governo estadunidense.
Ou seja, não há plano de governo ou restrição que evite que a inflação continue subindo enquanto o clima não for considerado a causa e o efeito.