Queijo mais velho do mundo é achado no pescoço de múmias de 3,5 mil anos

11/10/2024 às 15:002 min de leituraAtualizado em 11/10/2024 às 15:00

Em uma pesquisa recente, uma equipe de cientistas chineses realizou um trabalho de detetive para rastrear, através dos tempos, os micróbios lácteos usados na fermentação de laticínios. Em uma reviravolta digna de uma investigação de CSI, esses primeiros microrganismos foram detectados no pescoço de múmias humanas da Idade do Bronze

Publicado na revista Cell, o estranho estudo mostra que os pesquisadores conseguiram extrair genomas de alta qualidade do Lactobacillus kefiranofaciens de três amostras de queijo antigo (cerca de 3,5 mil anos) desenterradas no cemitério de Xiaohe, um importante sítio arqueológico localizado na região de Xinjiang, na China. 

A identificação dos queijos nas múmias já havia sido feita anteriormente por meio de paleoproteômica, um campo científico relativamente novo que permite estudar proteínas antigas extraídas de restos fósseis ou arqueológicos.

Como era o queijo das múmias?

Resumo gráfico do trabalho. (Fonte: Yichen Liu et. al./Divulgação)
Resumo gráfico do trabalho. (Fonte: Yichen Liu et. al., 2024/Divulgação)

Usando sondas que permitem aumentar o DNA do L. kefiranofaciens e reconstruir todo o seu genoma, os autores confirmaram que o queijo usado nas múmias foi feito usando bactérias de ácido láctico e leveduras. O leite utilizado na fabricação dos queijos veio de uma linhagem de cabras muito comum na Eurásia, no período pós-neolítico, diferentes das atuais.

A descoberta revela que os antigos povos da região da Bacia do Tarim, uma das maiores bacias endorreicas (fechadas) do mundo, já dominava naquela época as técnicas de produção do queijo kefir. Este produto lácteo fermentado e seco era feito com o mesmo tipo de bactérias, leveduras e complexo fúngico da atual bebida probiótica com o mesmo nome.

Queijos do Tarim revelam a história cultural daquele povo

Restos de laticínios com cerca de 3,5 mil anos a.C. dos túmulos de Xiaohe. (Fonte: YANG Yimin/ Universidade da Academia Chinesa de Ciências/Divulgação)
Restos de laticínios com cerca de 3,5 mil anos dos túmulos de Xiaohe. (Fonte: YANG Yimin/ Universidade da Academia Chinesa de Ciências/Divulgação)

A pesquisa mostrou que a bactéria láctica L. kefiranofaciens usada na fermentação compreendia dois clados. Um deles vinha de cepas da Europa, onde é hoje a Alemanha; e a outra de áreas costeiras e ilhas da Ásia, como Guangdong, Taiwan, Japão e Cingapura. Isso pode ser explicado pelo fato de o Tarim ser um importante cruzamento de vias comerciais e culturas, na antiga Rota da Seda. 

A separação das duas linhagens provavelmente ocorreu após a dispersão do seu ancestral comum, inicialmente domesticado por diferentes grupamentos humanos. As alterações bioquímicas refletem as migrações e interações que foram ocorrendo, enquanto diferentes populações adaptavam esses microrganismos para seus processos fermentativos.

O coautor Yang Yimin, professor da Universidade da Academia Chinesa de Ciências, se diz surpreso em um comunicado, com a forma pela qual resíduos orgânicos antigos abriram uma janela para comportamentos e culturas humanos que haviam sido perdidos na história e nos registros. “É emocionante ver quanta informação pode ser recuperada desses queijos”, concluiu.

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