Ciência
25/11/2019 às 15:00•3 min de leitura
Na noite do dia 13 de fevereiro de 1994, às 20h15, uma mulher de 31 anos de idade chamada Glória Cecilia Ramirez deu entrada no pronto-socorro do hospital Riverside General Hospital, na Califórnia. Trazida pelos paramédicos para o centro de emergência, ela estava consciente, porém extremamente confusa e sofrendo de maneira severa com os efeitos da fase terminal de um câncer de colo de útero, com picos de taquicardia, problemas respiratórios e queda vertiginosa na pressão sanguínea.
A equipe de emergência rapidamente aplicou lorazepam, diazepam e midazolam para sedá-la, assim como lidocaína e bretílio para aplacar a taquicardia. No entanto, nada estava mudando o estado de Glória Ramirez, então decidiram partir para a desfibrilação. A corrente elétrica desencadeou um brilho oleoso por todo o peito da mulher e logo seu hálito doce e meio amoniacal preencheu o ar. Rapidamente, a enfermeira Susan Kane coletou o sangue de uma das veias do braço de Glória e notou o mesmo fedor que emanava dela, vindo agora da seringa.
Quando a médica residente Julie Gorchynski percebeu que havia partículas escuras flutuando pelo sangue, a enfermeira Susan começou a se queixar que seu rosto estava pinicando e ardendo, para logo em seguida desmaiar ao lado da maca onde estava a paciente. A médica, Julie, sentiu-se nauseada e com tonturas. E, diferentemente da enfermeira, ela conseguiu deixar a sala, mas acabou apagando no meio do corredor do hospital. Em seguida, foi a vez de Maureen Welch, uma fisioterapeuta respiratória, desmaiar.
Todos foram ordenados a evacuar os pacientes e outros enfermos para o estacionamento do hospital e apenas uma equipe mínima para operar os aparelhos e manter os requisitos funcionais básicos em andamento permaneceu na unidade. Contudo, após aproximadamente 40 minutos de reanimações e desfibrilações, Glória Ramirez veio a óbito, às 20h55 da noite, por conta de uma falência renal.
Acompanhada de outra enfermeira, Sallie Balderas ajudou a transportar o cadáver da mulher para a ala de isolamento. E durante esse processo, ela passou a gritar que sua pele e olhos queimavam, vomitando ao longo do caminho até que entrasse num ataque de pânico e apagasse. Dos 37 funcionários que entraram em contato com o corpo da mulher, 23 foram internados com febre excessiva, vômito constante e confusão mental. Outros cinco deram entrada apresentando um quadro quase que instantâneo de apneia, hepatite, pancreatite e até necrose vascular, como a médica Julie Gorchynski foi diagnosticada. Era como se todos tivessem sido expostos a níveis diferentes de radiação.
O estranho caso despertou a curiosidade de diversos estudiosos, médicos, cientistas e especialistas em psicologia e psiquiatria, que tentaram desvendar o que circulava dentro do corpo de Gloria Ramirez que poderia ser tão altamente tóxico assim, ou o que deu nos empregados para apresentarem tantos sintomas inesperados. Diversas teorias foram criadas, como histeria em massa por parte da equipe, más condições do hospital — que já havia liberado um gás tóxico de um esterilizador certa vez — ou o DMSO, também conhecido como sulfóxido de dimetilo. Essa, em particular, foi a que mais as autoridades e a pericia forense se ativeram.
Do ponto de vista químico, o Laboratório Nacional de Livermore deduziu que Gloria Ramirez estava tomando esse solvente (DMSO) como remédio caseiro no intuito de diminuir as dores causadas em decorrência do câncer. As pessoas que se valem desse produto venenoso afirmam que experimentam um gosto de alho e amônia na boca.
A conclusão foi que havia um acúmulo do solvente no corpo da mulher, certamente ocasionado pelo problema renal descoberto durante a autópsia — o que teria gerado uma retenção maciça dele em seu organismo. O oxigênio administrado pelos paramédicos, possivelmente, junto com o DMSO, criara o DMSO2, conhecido como dimetil sulfona, que se cristaliza na temperatura ambiente, explicando o motivo das partículas notadas pela médica no sangue da mulher.
Os choque dos desfibriladores teriam convertido o DMSO2 em DMSO4, um gás altamente danoso que teria pairado ao redor do corpo e contaminado todos os que se envolveram com ele. Por mais plausível que pareça, essa teoria foi classificada como altamente questionável, ainda mais com as chances da conversão de DMSO4 dentro de um corpo humano serem bem mínimas, segundo especialistas.
Nenhuma das teorias foram efetivas para definir o que era aquilo no corpo de Glória Ramirez, então, dois meses depois, já em decomposição, o corpo dela foi enterrado no cemitério Olivewood Memorial Park.
A família de Glória culpou o hospital, alegando omissão de informações por parte deles. Todos estavam convictos de que a instituição havia cometido algum erro médico e não queria assumir a culpa. De qualquer forma, até hoje, ninguém jamais conseguiu determinar os acontecimentos ao redor da morte da mulher, o que permanece uma grande e estranha incógnita, tanto médica quanto social.