Ciência
21/07/2020 às 14:00•3 min de leitura
Jean Hilliard lembra-se de uma escuridão que foi avançando, entorpecendo os seus sentidos até que a "apagasse" de vez. Ela mal sabia, no entanto, o que significava isso: ela havia praticamente morrido.
Nascida em dezembro de 1961, na área rural da cidade de Lengby, em Minnesota (EUA), a jovem levou uma vida extremamente normal durante toda a sua infância. Foi no fim de sua adolescência, no entanto, aos 19 anos, que tudo mudou.
De acordo com o censo realizado em 2010, Lengby apresentava uma população de apenas 87 pessoas em meados de 2017, distribuídas em meio a muitas florestas, lagos e terras agrícolas que ficam ao norte.
Na noite de 20 de dezembro de 1980, estava a jovem Hilliard na cidadezinha situada "no meio do nada". Então, foi quando tudo aconteceu.
(Fonte: WOWBiz/Reprodução)
“Eu fui à cidade encontrar alguns amigos”, declarou a jovem em entrevista à Rádio Pública de Minnesota. Era por volta da meia-noite quando ela deixou a Legião Americana de Fosston, um dos pontos de encontro mais badalados entre os jovens que habitavam aquela região.
Com a temperatura alcançando a marca de -30º C, Hilliard dirigia para casa no Ford LTD de seu pai, porém o motor não conseguiu manter o aquecimento necessário para fazer a combustão da gasolina, rapidamente apresentando várias falhas. A falta de tração nas rodas traseiras em uma estrada congelada tornou a condução do veículo uma tarefa mais perigosa ainda.
No momento em que o carro passou por uma vala, a garota perdeu totalmente a direção e caiu no canteiro lateral da pista, felizmente sem ferimentos. O acidente resfriou o motor por completo, e ela não conseguiu mais dar a partida. Hilliard considerou aguardar até que algum serviço de busca surgisse, mas, de acordo com o seu conhecimento do local, achava que estava a cerca de 3 km da casa de seu amigo, Wally Nelson.
(Fonte: LifeBuzz/Reprodução)
Com as suas botas de caubói e roupas que não eram preparadas para encarar daquele jeito o rigoroso inverno, Hilliard abandonou o carro e prosseguiu o resto do caminho a pé. Mais tarde, apesar de não saber por quanto tempo caminhou, ela hoje se lembra de como se sentia frustrada, pois a casa de Nelson parecia bem mais distante naquela noite. “Eu subia uma colina pensando que o lugar estaria depois dela, mas nunca estava lá”, ela relatou.
Contudo, quando ela finalmente disse ter visto as luzes piscando nas janelas do andar térreo da casa, tudo escureceu em sua mente.
(Fonte: BAOMOI/Reprodução)
Por volta das 7 horas, quando Nelson abriu a porta, ele se deparou com o que tinha a aparência de um corpo coberto pela neve, a pouco mais de 10 metros da varanda de sua casa. Depois de o inspecionar mais de perto, o jovem descobriu que se tratava de sua amiga Jean Hilliard, congelada da cabeça aos pés (ainda vestindo casaco e luvas).
“Eu a agarrei pela gola e a arrastei para a varanda. Eu pensei que ela estava morta. Estava congelada como um pedaço de madeira, mas via algumas bolhas saindo de seu nariz”, recordou Nelson em depoimento.
O corpo de Hilliard estava tão enrijecido que os pais de Nelson não conseguiram colocá-lo na cabine de sua caminhonete para levá-lo ao hospital. Eles tiveram que pegar o carro abandonado pela jovem no meio da estrada e dirigir até o hospital mais próximo, em Fosston.
Uma vez lá, os médicos não enfrentaram o caso como algo que poderia ter solução. Hilliard já parecia ter morrido.
(Fonte: Newsnack/Reprodução)
Com uma aparência acinzentada, feito uma estátua, e olhos que não respondiam às alterações de luz, a temperatura do corpo de Jean Hilliard era tão baixa que nenhum termômetro disponível em todo o hospital pôde a medir corretamente. Os enfermeiros não conseguiram perfurar a pele dela com agulhas hipodérmicas, pois elas simplesmente quebravam ao entrar em contato com a moça.
Para a desmotivação de todos, o pulso da garota registrava apenas 12 batimentos por minuto, significando que ela tinha pouco tempo. No entanto, se sobrevivesse, os médicos não sabiam por quanto tempo seria, tampouco sob quais condições.
“Eu pensei que ela já estivesse morta, mas depois que percebemos uma espécie de gemido vindo dela, ainda que extremamente fraco, nós sabíamos que ainda havia uma pessoa ali”, declarou o Dr. George Sather, um dos médicos assistentes.
A única solução que a equipe médica encontrou para salvar a vida de Hilliard foi a de aquecer o corpo dela com mantas térmicas e um cobertor elétrico, para que ele entrasse em processo de descongelamento. Segundo os médicos, a temperatura geral dela estava na casa de -88º C.
Jean Hilliard. (Fonte: ExtraStory/Reprodução)
O corpo de Jean Hilliard não reagiu tão rapidamente ao (único) tratamento que poderia salvar a sua vida naquele momento. “Ela permanecia fria, completamente sólida”, enfatizou o Dr. Sather.
Somente depois de 3 ou 4 horas que ela tinha começado a descongelar, veio a primeira reação. A jovem entrou em um atordoante episódio de convulsões, debatendo-se por alguns minutos, pondo a equipe médica em alerta. Ela se debatia tanto que os enfermeiros tiveram de a segurar firme para ela não se debater na cama e cair no chão.
Em seguida, Hilliard abriu os olhos e começou a esboçar os primeiros sinais de alguém que recuperava a consciência. Por algumas horas, ela conseguiu apenas realizar as suas tarefas fisiológicas adequadamente, mas sem raciocinar corretamente. Levou quase metade da tarde para que ela voltasse a falar, demonstrando preocupação sobre o que seu pai poderia pensar sobre ter destruído o carro dele.
Para muitos, a vida de Jean Hilliard se tornou um milagre. “Eu não vi a luz no fim do túnel ou algo parecido. Foi meio decepcionante. Muitas pessoas falam sobre isso, mas eu não vi nada”, alegou ela sobre a experiência de quase morte.