Artes/cultura
12/08/2020 às 15:00•3 min de leitura
Ainda que a modernidade tenha feito parecer que a ideia das dentaduras foi uma criação muito recente, a sua história data de milhares de anos atrás, com a origem das civilizações. A criatividade do homem, por sua vez, apenas possibilitou novas maneiras de substituir os dentes conforme os séculos foram se passando.
Em meados de 1500 a.C., os egípcios ficaram marcados como uma das primeiras civilizações a utilizar a forma mais primitiva do que atualmente conhecemos como prótese dentária. Eles amarravam os dentes humanos com fios de ouro ou arame, atravessando-os nas gengivas para gerar sustentação.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Enquanto isso, na América antiga, os maias lapidavam pedras, conchas e ossos no formato de dentes e os colocavam na cavidade vazia de um dente perdido. Muito embora isso pareça absurdo, as medidas eram muito eficazes, pois os materiais usados se fundiam permanentemente com a mandíbula, apesar de também causarem danos.
Provavelmente vindos da Ásia Central, por volta de 700 a.C., os primeiros povos que colonizaram a região onde atualmente fica a Itália se autodenominavam latinos. Assim como os povos etruscos, eles também inventaram a própria forma de criar dentaduras usando dentes de animais em vez de dentes humanos.
Dentadura de madeira (Fonte: Pinterest/Reprodução)
A técnica rudimentar iniciada pelos maias se estendeu até as tribos antigas no México. Eles usavam dentes de lobos, pedaços de pedra e ossos para substituir os próprios dentes ou criar uma prótese inteira.
Em meados do século XVI, os japoneses fabricaram as dentaduras feitas de madeira, que foram utilizadas até o início do século XX. Muito embora alguns dados históricos apontem que os dentes de madeira surgiram nos Estados Unidos, na antiga Província de Kii, no Japão, a sacerdotisa Nakaoka Tei já os usava há tempos.
(Fonte: Broadway Dental/Reprodução)
No século XVIII, cresceu o número de pessoas precisando de dentaduras devido ao aumento exponencial no consumo de açúcar e tabaco, principalmente por causa das grandes plantações que havia na América. Em um cenário de cáries generalizadas e da rápida destruição dos dentes pela falta de cuidados adequados, em 1723 o médico francês Pierre Fauchard — conhecido atualmente como o pai da Odontologia moderna — publicou um livro chamado The Surgeon Dentist, que detalhava práticas completas de atendimento odontológico e higiene, inclusive com as dentaduras.
Em 1770, o francês Alexis Duchateau fez as primeiras dentaduras de porcelana. Antes disso, ele usava o marfim que vinha dos cascos de hipopótamos, morsas ou elefantes. O presidente dos Estados Unidos George Washington foi o primeiro a exibir as suas dentaduras esculpidas em marfim e inseridas com dentes de humanos, cavalos e burros. No entanto, além de nada naturais, esses dentes se degradavam mais rápido com a corrosão das cáries. Depois que dentes humanos se tornaram mais disponíveis, perto do final do século, o marfim ainda continuou sendo usado como base das próteses.
Por observar as dentaduras de marfim apodrecerem rapidamente, Alexis quis fazer algo mais durável, por isso escolheu a porcelana. Após as primeiras tentativas falharem drasticamente, ele uniu forças com o dentista Nicholas Dubois de Chemant e finalmente conseguiu fazer uma prótese boa. Em 1791, os dois entraram com a patente britânica para dentaduras de porcelana. Apenas em 1820, o ourives Samuel Stockton fez uma versão melhorada delas em placas de ouro de 18 quilates.
(Fonte: British Battles/Reprodução)
Conforme o uso de dentes humanos foi se popularizando, os camponeses começaram a saquear túmulos e até extrair os próprios dentes para vender aos profissionais. Essa baixa qualidade dos dentes significava que as próteses se tornavam algo estético, ou seja, precisavam ser removidas durante as refeições.
Em 1815, depois de anos vivendo com estoque baixo, tudo mudou quando cerca de 50 mil combatentes morreram no campo de batalha de Waterloo. Eram homens jovens e saudáveis, portanto as dentaduras ficaram impecáveis. Ter "dentes de Waterloo” na boca logo se tornou sinônimo de prestígio entre as pessoas.
Visto que a mão de obra e a matéria-prima sempre foram igualmente caras, as dentaduras eram destinadas a uma parcela mais favorecida da sociedade. Em meados de 1850, isso começou a mudar quando cresceu a produção das próteses em ebonite, um tipo de borracha endurecida onde eram presos os dentes de porcelana.
No entanto, o uso do material já havia sido patenteado pela Goodyear Dental Vulcanite Company em 1839. Embora o fundador Charles Goodyear tenha se recusado a coletar os royalties, o oficial da empresa, Josiah Bacon, fez questão de cobrá-los de todos os dentistas que usassem o material.
A empresa Ash & Sons, fundada por Claudius Ash, se tornou a principal fabricante das dentaduras de ebonite. Eles e milhares de dentistas batalharam por anos até que os direitos autorais sobre a borracha expirassem e ela se tornasse material básico para as próteses dentárias.
(Fonte: London Ontario Dentist/Reprodução)
Em 1890, a celuloide inventada por John Wesley Hyatt foi o primeiro plástico industrial usado como material de base para as próteses, apesar de seu odor desagradável de cânfora. Ainda que não tenha durado por muito tempo, a celuloide marcou o início dos plásticos como materiais para a confecção das dentaduras.
Em 1940, a resina acrílica foi introduzida como base das próteses, e a ebonite caiu em desuso. Dura, translúcida e sem toxicidade, a resina acrílica é tão facilmente reparável e barata que é usada até hoje nas dentaduras.
Por volta de 1952, aconteceu uma revolução odontológica quando o dentista Leonard Linkow descobriu que o titânio se fundia com o osso da mandíbula, eliminando a necessidade de próteses removíveis. Em 1965, ele aplicou o método em um paciente, abrindo as portas para o procedimento no mundo todo.
Desde então, as próteses dentárias continuam sendo modernizadas através de estudos científicos, muito embora cada vez menos as pessoas precisem delas, graças aos avanços na conscientização sobre higiene e saúde bucal.