Ciência
01/07/2021 às 14:00•3 min de leitura
Um avô do estado de Minnesota, nos EUA, passou por um acidente de moto traumático que causou fraturas em praticamente todos os ossos de sua face. Levado de helicóptero para a Clínica Mayo, ele teve que se submeter a uma complicada reconstrução, que só foi completamente possível após dois médicos decidirem utilizar uma impressora 3D para descobrir como recompor aquele rosto destruído.
A aventura de John Roby, de 66 anos, começou em junho de 2020, quando a motocicleta que ele pilotava foi abalroada violentamente por uma caminhonete, em uma rodovia estadual. Levado de helicóptero-ambulância para a Clínica Mayo, os médicos logo perceberam que ele tinha ferimentos “devastadores” em todas as partes do rosto, ficando praticamente irreconhecível.
Quando o helicóptero Mayo One sobrevoou a Rota 169, e desceu perto da cidade de Mankato, onde ocorreu o acidente, John estava desmaiado e, mesmo estando de capacete, teve profundos ferimentos na face, além de outros graves que requeriam atenção e cuidados médicos urgentes.
Fonte: Clínica Mayo/Divulgação
Falando posteriormente à rede de notícias da clínica, John Roby diz que não se lembra como foi parar lá. Mas sabe que um veículo aéreo o transportou do local do acidente, em Mankato, até o hospital da Clínica Mayo, na cidade de Rochester. No entanto, ele tem certeza de que, "se não fosse pelo helicóptero e pelos médicos, eu não estaria aqui falando com você hoje".
Assim que John deu entrada no hospital, médicos de diversas especialidades foram chamados para avaliar a extensão e a gravidade dos ferimentos. Entre eles, estava o cirurgião plástico e reconstrutivo dr. Basel Sharaf. No entanto, as prioridades foram o tratamento de duas lesões graves, na artéria aorta e no pescoço.
Depois de estabilizado, Roby submeteu-se a diversos exames de imagem e tomografias da face, para registrar todas as lesões. De posse dos exames, o dr. Sharaf explicou que o trauma facial do paciente era tão extenso, que uma cirurgia tradicional para simplesmente voltar os ossos para o seu lugar original seria "uma perda de tempo".
Fonte: Clínica Mayo/Divulgação
Sem esperanças de poder atuar utilizando as técnicas convencionais, Sharaf buscou ajuda no Laboratório de Modelagem Anatômica Tridimensional (3D) da própria clínica. Lá, o diretor do laboratório, dr. Jonathan Morris, usou as tomografias computadorizadas da cabeça e do pescoço de John para criar uma série de modelos, em tamanho real, de cada osso específico do rosto do paciente.
Os engenheiros da Unidade de Modelagem Anatômica usaram um programa computadorizado de design para replicar completamente o rosto e o crânio de John Roby em 3D. desse modelo, foram impressas várias réplicas tridimensionais. Para montar corretamente o crânio, cada fragmento independente foi impresso em uma cor diferente.
Dessa maneira, o dr. Morris e o dr. Sharaf começaram a montar os fragmentos nos locais em que deveriam ficar, como um objeto de Lego, com base em medições faciais padrão, e também a partir de uma imagem espelhada do lado do paciente. que não foi desfigurado pelo acidente. A equipe usou ainda diversas fotos recentes de John, para orientar o processo.
Fonte: Clínica Mayo/Divulgação
Normalmente, as placas utilizadas para reparar ossos fraturados são moldadas e ajustadas já no centro cirúrgico, depois que o cirurgião junta todas elas. Mas, no caso de John, a equipe médica usou o planejamento virtual e as impressões 3D para compor as placas cirúrgicas necessárias na reconstrução, antes da cirurgia. Isso representou uma enorme economia de tempo durante o procedimento.
E não foi apenas uma questão de tempo. A interação das equipes de Engenharia, Radiologia e Cirurgia Plástica foram “capazes de montar um crânio corrigido, onde todas as partes que criamos anteriormente estão agora na área e lugar certos, ambos no formato do crânio do paciente, para que ele pareça normal, mas também funcione de maneira normal”, afirmou o dr. Morris à rede de notícias.
Antes de instalar uma impressora no hospital, as cirurgias como a de John eram completamente executadas na sala de cirurgia. O dr. Sharaf esclareceu que, quando o trauma facial é extenso, é muito difícil fazer uma intervenção sem a camada intermediária do planejamento e da impressão 3D. Além disso, o inchaço normalmente presente atrapalha bastante a reconstrução perfeita do esqueleto.
Mesmo com todo o planejamento, a cirurgia durou 11 horas, mas sem o planejamento duraria mais umas cinco horas. Isso significou menos tempo do paciente sob anestesia e menor perda de sangue. Quanto aos resultados, John afirmou que "a coisa mais importante é que minha namorada e meus netos me reconhecem. Eles sabem quem eu sou: sou o vovô”.