Ciência
16/11/2021 às 13:00•3 min de leitura
Você já ouviu falar em "coleira" para crianças? Ao que tudo indica, essa tem sido uma nova tendência para pais que desejam proteger seus filhos em ambientes externos sem correr maiores riscos. O tema viralizou com o TikTok de uma babá brasileira residente nos Estados Unidos e, desde então, tem gerado múltiplas reações por aí. Afinal, o que é o mais adequado para esse tipo de situação?
Por mais compreensível que seja o excesso de preocupação dos pais, seria essa medida realmente recomendada ou necessária? Vamos nos aprofundar a respeito do tema e entender quais são as complicações que podem existir por trás do uso desse tipo de apetrecho. Confira só!
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Em entrevista ao Mega Curioso, a pedagoga e professora de Educação Infantil Izabela Mariano comentou a respeito da problemática quanto ao uso de coleiras em crianças. "Na cabeça dos cuidadores, usar essa ferramenta é uma espécie de liberdade controlada, mas na verdade você está impedindo que a criança aprenda a existir em sociedade, além de atrapalhar seu desenvolvimento como um todo", ela argumentou.
Na visão da especialista, muito do que temos hoje a respeito da aprendizagem infantil e o desenvolvimento das crianças passa pelo corpo, ou seja, aprender a andar sozinha na rua acaba sendo uma excelente oportunidade para que esses jovens aprendam a olhar para o mundo e também para si.
Para Mariano, a coleira exime o cuidador de se responsabilizar pelo cuidado social. Dessa forma, a pessoa poderia sair para passear na companhia da criança sem ter que se preocupar em passar algum tipo de ensinamento ou lecionar a respeito das normas implícitas que usamos para conviver em sociedade.
(Fonte: Shutterstock)
Quando foi criada, o design da coleira infantil foi feito para impedir que crianças se envolvam em acidentes enquanto passeiam fora de casa. Porém, até que ponto esse tipo de acessório realmente protege? Existe a possibilidade de essa ferramenta provocar algum tipo de lesão?
Pense no seguinte cenário: em caso de um puxão mais forte na corda, o que aconteceria com a criança? Até então, ainda não existem muitos dados no mercado a respeito de ferimentos causados por essas coleiras, e a Comissão de Segurança de Produtos de Consumo dos Estados Unidos ainda não registrou nenhuma queixa.
Ao mesmo tempo que não existem dados sobre as coleiras causarem lesões, pouco se sabe sobre os motivos pelos quais elas têm sido usadas e o quanto elas são realmente eficientes para evitar maiores problemas. "Aos que hoje são adultos: quando crianças usaram coleira? Ou então já se perderam do pai ou da mãe? O que fizeram nessas circunstâncias?", indagou a educadora.
(Fonte: Shutterstock)
Mesmo em um mundo onde se comprova a eficácia das coleiras infantis em evitar acidentes, ainda existe outro cenário a se considerar quanto a isso: o que os pais estariam deixando para trás em relação ao desenvolvimento de seus filhos? No fim das contas, a segurança de um aparelho não pode substituir o cuidado afetivo e atenção parental.
Sobretudo porque o desenvolvimento infantil se dá em múltiplos aspectos, como motor, visual, cognitivo e afetivo. Quando os filhos são impedidos de serem livres e os pais se abstêm de prestar atenção em suas ações, consequentemente pode-se estar deixando uma enorme lacuna que dificilmente será preenchida no futuro.
Então, como conciliar a rotina de adultos com os cuidados infantis? Na visão de Mariano, é preciso ser claro em seus objetivos. "Se o adulto tem pressa, então deve avisar a criança ou arranjar outro meio de locomoção, sair antes de casa ou garantir à criança um período em que o passo da caminhada será controlado por ela. Assim, é possível satisfazer as curiosidades e permitir o desenvolvimento dela sem se preocupar com tempo ou com o possível corre-corre", ela sugeriu.
Assim, a coleira jamais deve ser usada como uma desculpa para que os pais deixem de participar do desenvolvimento social dos filhos, sendo sempre necessário estar atento aos desejos e passos da criança.