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28/11/2021 às 08:00•2 min de leitura
Durante a pandemia de covid-19, boa parte da população brasileira e mundial foi persuadida a fazer um suposto tratamento precoce contra a doença viral, recorrendo a medicamentos que se provaram ineficientes ou mesmo nocivos à saúde de quem os tomou. Os medicamentos, aliás, estiveram envolvidos em vários escândalos. Um caso marcante recente é o que envolve a empresa que administra o plano de saúde Prevent Senior — denunciada, dentre outras razões, pela suspeita de forçar médicos a administrar o chamado “Kit Covid” sem autorização dos pacientes.
Porém, é importante destacar que a ivermectina e a hidroxicloroquina — os dois remédios mais conhecidos no chamado “Kit Covid” — não foram criados agora. Então, para que eles de fato servem?
(Fonte: Shutterstock)
Descoberta em 1974 e introduzida no mercado em 1981, a ivermectina é um fármaco indicado para o tratamento de diversos parasitas — em especial, piolhos, lombrigas e sarna. A importância desse vermífugo é tão grande que seus descobridores, os cientistas William C. Campbell e Satoshi Omura, receberam o prêmio Nobel de Medicina em 2015.
O remédio só pode ser vendido sob prescrição médica, pois apenas o profissional de saúde consegue indicá-lo com segurança para não causar danos ao paciente. Os riscos são tanto de uma superdose quanto de reações alérgicas aos seus componentes. A ivermectina tem também uso veterinário.
Se o uso da ivermectina é bastante específico, porque então ela passou a ser indicada para infecção por covid-19? Especialistas dizem que essa indicação provavelmente começou por conta de uma pesquisa publicada por cientistas australianos no periódico Antiviral Research, o qual indicaria que o composto da ivermectina teria conseguido inibir a replicação do coronavírus in vitro (ou seja, em células isoladas, e não no corpo humano).
O professor Leonardo Pereira, da Universidade de São Paulo (USP), afirma que houve uma interpretação errônea sobre os impactos desses resultados. “A dose eficaz nessa investigação ultrapassa entre 50 e 100 vezes o limite considerado seguro para o ser humano”, disse à Veja.
Já Sergio Liblik, da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), comenta que existem estudos em andamento mostrando que a molécula da ivermectina pode ter efeitos na glicose, no colesterol e até mesmo no tratamento de tumores e vírus. “Apesar desse potencial, isso não significa que ela será eficaz contra todos os vírus. O que é bem conhecido é que a ivermectina mata parasitas grandes por meio da paralisação muscular. Já no coronavírus, o mecanismo é outro, e se refere a uma enzima capaz de 'cortar' o seu RNA”, explicou ao portal UOL.
(Fonte: Shutterstock)
Já a cloroquina (ou sua variante, a hidroxicloroquina) tem uma história um tanto “acidentada”. Isso porque ela foi descoberta por acaso como uma forma de tratar a malária. Ela foi um dos vários medicamentos sintetizados na década de 1920, na busca de achar um substituto para a quinina, que era usada para tratamento de febres causadas pela doença.
Com o tempo, o remédio passou também a servir para tratamento de doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus. Inclusive, a indicação desse medicamento para infectados com covid fez com que muitas pessoas ficassem temporariamente sem acesso ao remédio que tratava suas doenças crônicas.
A ivermectina e a cloroquina, portanto, são desaconselhadas para o tratamento de covid-19, visto que não há estudos clínicos seguros que comprovem sua eficácia para a doença. No entanto, são medicamentos que ajudam muitas outras pessoas no mundo, quando indicados e usados para a finalidade correta.