Artes/cultura
31/01/2022 às 13:00•2 min de leitura
Em 2020, quando a pandemia do novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, a idade foi um dos primeiros aspectos relacionados à gravidade da doença. Com o passar do tempo, também se descobriu que condições subjacentes como câncer, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 aumentavam as chances de complicações.
Mais recentemente, no entanto, o acúmulo de gordura corporal também foi apontado como um importante fator de risco para a hospitalização e até para a morte por covid-19. Mas por quê?
Spike. É ela a responsável por permitir que o vírus entre nas células do corpo humano, uma vez que se acopla à enzima angiotensina tipo 2 (ACE2), uma molécula que está presente em diferentes tipos de célula do corpo.
(Fonte: Pexels)
Nas pessoas acima do peso, o tecido adiposo apresenta uma expressão maior da molécula ACE2. Como consequência, a gordura corporal passa a ser um local atrativo para o vírus se alojar, permitindo que ele permaneça por muito mais tempo no corpo, gerando complicações mais intensas.
No final do ano passado, uma investigação preliminar conduzida por cientistas do Centro Médico da Universidade de Stanford obteve alguns dados interessantes sobre a relação entre a gordura corporal e o coronavírus.
A análise sugere que o vírus Sars-CoV-2 parece atacar de forma mais intensa o tecido adiposo: uma vez alojado nele, potencializa as inflamações que, posteriormente, dão origem a um quadro grave da doença.
Segundo esse estudo, o coronavírus usa a gordura do corpo como um "cavalo de Troia", ou seja, além de escapar das defesas imunológicas no corpo, ele se abriga no tecido adiposo e engana o organismo, o que lhe dá tempo de sobra para se replicar e desencadear complicações da doença.
Aqui, no Brasil, já em 2020, pesquisadores da USP chegaram a uma conclusão muito próxima: além de observar que o tecido adiposo servia como reservatório para o vírus, o que fazia que a carga viral em indivíduos acima do peso e obesos fosse maior, notaram sinais de que, no decorrer da infecção, as células de gordura liberavam compostos na corrente sanguínea que intensificavam a reação inflamatória.
(Fonte: Pixabay)
Não é novidade que a gordura corporal é um excelente reservatório e abrigo para alguns vírus. Por exemplo, já sabíamos que isso acontecia com o HIV. Em 2009, época em que ocorreu a pandemia de H1N1, a obesidade também foi associada a uma chance maior de internação após a infecção.
Vale lembrar que a obesidade causa um estado inflamatório crônico no indivíduo, ou seja, devido ao excesso de peso, a pessoa pode ter problemas de baixa imunidade, o que a deixa mais vulnerável a diversas infecções.
De qualquer forma, essas descobertas podem ajudar a abrir novas rotas para tratamentos mais efetivos contra a covid-19 com foco na gordura corporal. Por exemplo, uma vez compreendida a relação entre a gordura e os vírus respiratórios então será possível desenvolver medicamentos e abordagens médicas mais efetivas que diminuam a inflamação no tecido adiposo, aumentando as chances de resistência do paciente infectado.