Estilo de vida
22/03/2022 às 10:00•3 min de leitura
No mês de fevereiro, autoridades sanitárias do Malawi, país na África Oriental, confirmaram o primeiro caso de poliomielite por poliovírus selvagem depois de mais de 5 anos sem ocorrência da doença na África. Apesar de estar erradicada no Brasil, a pólio pode voltar a circular no país por conta da pouca adesão vacinal.
Essa informação foi revelada em uma entrevista de O Globo feita com o infectologista Gerson Salvador, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), que fez um grande alerta com relação à taxa de cobertura vacinal atual no Brasil.
Até 2015, a cobertura vacinal contra a doença no país era próxima de 100%, mas a partir do ano de 2016 essa realidade mudou. De acordo com dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em 2020, o índice chegou a 76%. Mas há uma disparidade nos índices de cada região brasileira, a taxa mais baixa do país é registrada no Nordeste, onde somente 54% das crianças fizeram o ciclo de imunização completo.
A apreensão é ainda maior com o avanço do vírus. Neste mês, foi registrado uma ocorrência de pólio em Israel, país que há 3 décadas não tinha casos da doença. De acordo com a imprensa israelense, a criança de 4 anos não estava vacinada.
A poliomielite só foi declarada como um problema de saúde pública a partir do século XIX. (Fonte: Pexels / Reprodução)
A poliomielite, também chamada de “paralisia infantil”, é uma doença infectocontagiosa ocasionada pelo poliovírus, que se aloja no intestino. A transmissão se dá pelo contato com fezes, alimentos e água contaminados. Também no expelir de secreções da garganta, tosse ou espirro.
É causada por três tipos de poliovírus (I, II e III) e manifesta, na grande maioria dos casos, infecções ou quadro febril. Em situações mais graves, a doença pode ocasionar meningite asséptica, paralisia ou óbito.
As primeiras epidemias de poliomielite surgiram na forma de surtos em Oslo (Noruega), em 1868, com 14 ocorrências, e no norte da Suécia em 1881, com 13 casos. Outra epidemia significativa, com 132 casos comprovados, aconteceu em 1894, em Vermont, um estado americano.
Em 1905, houve na Suécia outra incidência de poliomielite, com uma epidemia ainda mais significativa, com 1031 pessoas sendo atingidas. Nessa mesma época, Ivar Wickman, médico-epidêmico que buscava um antígeno para a doença, compreendeu que pacientes mesmo sem condições paralíticas poderiam transmitir o vírus.
Mas foi em meio a uma epidemia de 3840 ocorrências, em 1911, que conseguiram recuperar o vírus de portadores saudáveis e de pacientes paralíticos para estudar mais a fundo a doença.
É nesse contexto que o profissional da saúde Carl Kling identificou o vírus da pólio instalado na garganta das vítimas e também no intestino delgado. Essa descoberta permitiu entender que as pessoas estavam se tornando imunes por conta de infecções assintomáticas anteriores e não porque houve uma recuperação da doença em seu estado sintomático.
Em 1916, em Pigtown, bairro de imigrantes localizado no Brooklyn (Nova York), famílias começaram a relatar para médicos e padres locais a dificuldade do filho em segurar a mamadeira ou controlar as pernas, que pareciam “moles”.
Dias após as queixas, vieram as primeiras mortes, e investigadores do departamento de Saúde foram convocados para Pigtown para inspecionar cada caso. Os indícios apontavam para “pólio”.
À medida que a doença era disseminada no Brooklyn, as demais regiões fechavam suas fronteiras, utilizando forças policiais armadas para patrulhar estações de trem e estradas. Esse cenário durou até outubro de 1916, fazendo 6 mil vítimas e deixando 27 mil pessoas paralisadas.
Em 1994, o Brasil recebeu o Certificado de Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem nas Américas. (Fonte: Pexels/Reprodução)
Em meados das décadas de 1940 e 1950, a poliomielite se tornou a doença mais temida da Europa Ocidental e da América do Norte, com ocorrências quase anuais. Em seu pico de existência, em 1952, foram documentados cerca de 21 mil casos.
As crianças foram impedidas de frequentar piscinas, cinemas e outros locais de aglomerações onde poderiam ter contato com o vírus. Até que, em 1955, foi anunciada uma vacina eficaz.
Os primeiros relatos de casos de poliomielite no Brasil ocorreram em 1911, na cidade de São Paulo, foi nesse ano também que aconteceu o 1° surto. Em 1971, foi estabelecido o Plano Nacional de Controle da Poliomielite (PNCP), uma estratégia de vacinação em massa, a qual permitiu que futuramente a doença fosse erradicada no país.
Os últimos casos de isolamento foram registrados em 1989 após campanhas vacinais, conscientização e vigilância epidemiológica. No ano de 1991, foi apontado a última ocorrência nas Américas, mais especificamente no Peru.
A doença está erradicada em grande parte dos países, com casos esporádicos na Ásia e África, mas o cenário atual preocupa especialistas e deixa o Brasil na lista de “alto risco” na volta da pólio.
Tudo porque o esquema vacinal dos brasileiros está bem abaixo do considerado “aceitável” pelo Ministério de Saúde. Apesar de serem casos distantes do Brasil, a pandemia do coronavírus é uma prova de que eles devem ser motivos de atenção e mudança de cenário.