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27/06/2022 às 13:00•2 min de leitura
O avanço da medicina traz histórias surpreendentes, como a do pequeno Ragnar, que acabou de completar um mês de vida, mas já passou por um procedimento cirúrgico inédito no Brasil ainda no ventre de sua mãe.
O feto apresentou um tumor benigno durante o segundo trimestre da gestação. A condição rara se chama “sequestro pulmonar”. É como se essa massa enganasse o corpo do feto, dando a entender que é um pulmão. Nesse caso, o organismo irriga o tumor com sangue e os pulmões verdadeiros acabam recebendo água.
A delicada situação exigia intervenção cirúrgica o quanto antes. Não dava para esperar o término da gestação e nem mesmo um parto de emergência, pois como o pequeno Ragnar só tinha 29 semanas, o nascimento prematuro também era arriscado.
Em entrevista à BBC Brasil, a jornalista Polyana Brant, mãe da criança, relatou o drama que havia vivido: "Foi desesperador descobrir isso. Tive que manter a fé e buscar os melhores especialistas. A gente tem que valorizar a ciência e saber que ela pode, sim, andar de mãos dadas com a fé. Foi o que eu e meu marido, que esteve ao meu lado em todos os procedimentos, fizemos".
Nesse caso específico, a literatura médica recomenda que um dos vasos sanguíneos que alimentam o tumor seja queimado. Dessa forma, ele é absorvido pelo próprio corpo do paciente.
Foi isso que a Dra. Danielle do Brasil, cirurgiã especialista em casos de alto risco, decidiu fazer. "Assim, com uma agulha grossa que contém fibra de laser dentro, podemos queimar esse vaso, e a massa 'morreria' e depois seria absorvida pelo corpo. A ideia também era retirar o líquido do tórax para ajudar os pulmões expandirem", explicou à BBC Brasil.
Pais da criança durante exame médico. (Fonte: Reprodução: BBC Brasil)
Infelizmente, após 10 dias do procedimento cirúrgico, a equipe médica constatou que o tumor continuava sendo irrigado com sangue, pois um novo vaso sanguíneo surgiu para alimentá-lo.
Agora, em vez de queimar apenas o vaso sanguíneo, a Dra. Danielle decidiu usar a técnica para tentar destruir todo o tumor. Essa cirurgia, a primeira do tipo no Brasil, durou duas horas e meia e exigiu muito dos médicos envolvidos.
"Foi o mais difícil da minha vida. Na cirurgia fetal, nem sempre sabemos os passos de tudo que vai acontecer — não é para todos os casos que temos clareza do que está lá dentro. Eu tinha um alvo móvel que era o tumor, dentro de outro alvo móvel que é o líquido amniótico — e tentando atingir a massa com uma base imóvel, que era a minha agulha", contou a cirurgiã.
Dessa vez, o tumor não voltou a crescer e o pequeno Ragnar pôde vir ao mundo tranquilo, no dia 18 de maio deste ano. Toda essa história deve parar nas revistas científicas em breve, ajudando médicos do mundo todo a salvarem vidas por meio dessa técnica.