Ciência
14/10/2022 às 12:00•2 min de leitura
Por mais incrível que pareça, existe uma doença que costuma ser chamada de Síndrome de Alice no País das Maravilhas (AWS, conforme o termo original). É uma condição neurológica rara, ainda pouco estudada, e que leva este nome por conta de sua característica central: o portador tem episódios temporários de distorção e desorientação da percepção, podendo se sentir maior ou menor do que realmente é, tal como a personagem principal do livro de Lewis Carroll.
Este distúrbio neurológico também pode incluir outros sintomas, como enxaqueca e epilepsia. Ele foi identificado pela primeira vez em 1952 e foi batizado com esse nome em 1955 pelo psiquiatra inglês John Todd. As principais vítimas desta condição são as crianças — que têm dificuldades em relatar as suas percepções.
As pessoas que portam esta síndrome podem ter sensações bem bizarras. Neste texto, descrevemos algumas informações sobre esta doença.
(Fonte: United We Care)
As pessoas que têm AWS relatam sentir mudanças nos arredores do ambiente em que estão. Uma crise pode incluir micropsia (quando os objetos parecem ser muito pequenos) ou macropsia (quando parecem ser bem maiores do que são).
E isso não acontece apenas com os objetos do ambiente externo. Quem sofre com a Síndrome de Alice no País das Maravilhas pode sentir as partes do seu corpo de maneira muito distorcida. A sensação estranha pode durar apenas alguns minutos, ou se prologar por mais tempo, mas é compreensível que gere muita ansiedade quando está acontecendo.
(Fonte: Shopify)
Há suspeitas de que Lewis Carroll, o autor de Alice no País das Maravilhas, pudesse ele mesmo ter AWS, e que essa experiência tenha influenciado a história do livro.
Quem leu este clássico deve lembrar de uma cena em que Alice encontra uma garrafa com um rótulo escrito "Beba-me", e em seguida encolhe para apenas 30 centímetros. Logo adiante, ela come um bolo que a faz crescer rapidamente.
São histórias que têm a ver com os relatos de quem tem AWS. Mas há a hipótese de que Carroll tivesse apenas enxaqueca — que é um dos sintomas associados à síndrome.
(Fonte: BBC)
A Síndrome de Alice no País das Maravilhas ainda é uma incógnita para a ciência. Ninguém sabe dizer com certeza o que a causa. Mas há algumas pistas, que remetem principalmente a questões anatômicas do paciente.
Acredita-se que, quando acompanhada por enxaqueca, a síndrome pode ser gerada pela parte parieto-occipital do cérebro, que tem relação com a percepção do corpo e do espaço.
Já quando a AWS se relaciona com a epilepsia, pensa-se que pode estar associada ao lobo central do cérebro. Mas as investigações ainda são incipientes.
(Fonte: Instituto de Psicologia Aplicada)
Este distúrbio é muito raro, mas parte do seu desconhecimento tem a ver com o fato de que ele é difícil de ser identificado em um paciente. Pode ser que ele seja mais comum entre a população do que sabemos.
Não há maneiras aceitas universalmente sobre como identificar a AWS. E parte do desconhecimento tem a ver com um certo preconceito com questões relativas à saúde mental: muitas pessoas podem ter vergonha de relatar os seus sintomas por medo de estarem alucinando ou serem diagnosticados com uma doença mental.
Por isso, se você se identificou com algo relatado neste texto, o ideal é procurar uma consulta médica e tirar esta dúvida.