Ciência
05/01/2023 às 12:00•2 min de leitura
Em 24 de abril de 2022, no Peru, Rosa Isabel Céspedes Callaca interrompeu o próprio funeral ao despertar dentro do caixão mesmo após ser declarada morta, vítima de um acidente de carro.
Aparentemente, os médicos ignoraram que a mulher ainda apresentava sinais vitais, apesar de estar imóvel e sem respirar visivelmente. O fenômeno é chamado de catalepsia, algo tão comum quanto aterrorizante, que por esse motivo se infiltrou na nossa cultura popular.
No entanto, o que, provavelmente, permitiu que Callaca pudesse ter a chance de retomar a própria vida, foi o fato de ela não ter sido submetida a uma autópsia, sorte que o venezuelano Carlos Camejo não teve.
(Fonte: Reuters/Reprodução)
Em 2007, na Venezuela, então com 33 anos, Camejo bateu sua moto em um veículo estacionado e foi declarado morto pelos paramédicos ainda no local. De acordo com uma matéria do jornal mexicano El Universal, sua esposa, Tamara Rolón, disse que o corpo de Camejo foi encaminhado para o Hospital Geral Antonio María Benítez, em La Victoria, e largado em um corredor “com a ordem da autópsia enfiada no bolso de sua calça”, em vez de ser submetido à qualquer análise clínica, como geralmente acontece.
Depois disso, Camejo foi encaminhado para o necrotério, colocado sobre a mesa fria, onde o legista começou a suturar um corte em sua testa, ignorando que o ferimento sangrava muito – o que não acontece com um cadáver. Mesmo assim, o médico continuou e só parou quando Camejo começou a gritar de dor, desperto pela agulha.
“Eu acordei porque a dor era insuportável”, detalha uma matéria da Reuters. Foi aos poucos que Camejo se recuperou do estado de inconsciência e concluiu a negligência que havia sofrido.
(Fonte: Getty Images)
Antes que a medicina tornasse a barreira entre a vida e a morte menos um jogo de adivinhação do que parece agora, o medo de ser enterrado vivo era tão grande que ganhou nome: tafofobia (do grego taphos, equivalente a "tumba", e phobos, que significa "medo"). Não é para menos que, desde o final do século XVIII, foi sugerido a invenção de caixões com algum tipo de sistema de segurança para que o defunto fosse salvo caso acordasse.
“Com muita frequência, as pessoas eram declaradas mortas e não estavam realmente. Isso era o suficiente para apavorar qualquer um”, disse o historiador John Miller ao Parkerburg News and Sentinel.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Ainda que a situação de Camejo seja apenas um exemplo de negligência hospitalar absurda, é impossível não olhar pelo lado de como a medicina moderna permanece lutando contra o fantasma indecifrável que é a morte e algumas funções do corpo humano. Por vezes, o tecnológico maquinário não consegue captar respiração e atividade cerebral de tão absurdamente fracos que estão.
“Mesmo na comunidade médica, há um debate extenso sobre o que realmente constitui a morte, e ela é vista menos como um evento único e mais como um processo”, observou Carla Valentine, tecnóloga sênior qualificada em anatomia patológica, ao The Guardian.