Síndrome de Realimentação: por que não se resolve facilmente a desnutrição?

28/01/2023 às 12:002 min de leitura

Nos últimos dias, veio a público o cenário desolador pelo qual a Tribo Yanomami, que habita a região amazônica próximo à fronteira com a Venezuela, tem passado. Após sofrer com anos de desassistência, que se refletiram tanto na falta de cobertura sanitária quanto na ausência na disponibilização de recursos, inclusive na pandemia de covid-19, as consequências foram as piores possíveis.

Denúncias já haviam apontado que população era vítima da contaminação com mercúrio, resultado da expansão dos garimpos ilegais. Além de afetar a população local e as gerações futuras, já que a concentração de substâncias tóxicas também prejudica a gravidez, a concentração explica a maior ocorrência de malária entre os indígenas.

Não bastasse isso, os povos passaram a sofrer com desnutrição grave. Os relatos de quem visitou a região são unânimes, apontando que se trata de uma tragédia humanitária comparável à vivenciada por povos da áfrica subsaariana. Nesse cenário de guerra, pelo menos 99 crianças indígenas morreram e 1000 adultos necessitaram de atendimento médico emergencial.

Fome e seus impactos na saúde

Indígenas sofrem com desnutrição grave. (Fonte: Shutterstock)Indígenas sofrem com desnutrição grave. (Fonte: Shutterstock)

Depois de passar por um período prolongado num regime de subnutrição, mudanças bruscas na dieta trazem riscos que não são tão evidentes e geram preocupação. Tudo isso porque o organismo tende a desenvolver a Síndrome de Realimentação (SR)Com esse risco, reintroduzir uma dieta balanceada é uma tarefa ainda mais complicada do que se parece.

Essa condição pode afetar pessoas que perderam mais de 10% do seu peso, que sofrem de algum tipo de distúrbio alimentar, como anorexia e bulimia, ou mesmo desnutrição devido à má absorção dos alimentos pelo organismo, além da presença de outras doenças, como o câncer.

Assim como ocorre a perda da massa corporal, também há mudanças no metabolismo, visando adaptar o corpo à nova realidade, fazendo com que ele fique mais lento e exigindo menos nutrientes. Nesse sentido, a deficiência de fosfato, potássio e magnésio costumam ser as mais comuns, mas devido às mudanças na concentração de sódio e água, também pode ocorrer desidratação.

Efeitos da Síndrome de Realimentação

Subnutrição gera danos profundos ao organismo. (Fonte: Shutterstock)Subnutrição gera danos profundos ao organismo. (Fonte: Shutterstock)

Quando a dieta é retomada, o organismo ainda não está pronto para processá-la justamente devido à falta de nutrientes, e pode desenvolver uma série de complicações, como problemas respiratórios, convulsões, fraqueza cardíaca, tontura, e provocando até mesmo a falência de órgãos, caracterizando a Síndrome de Realimentação. Ou seja, para um povo já atingido pela fome, a solução é muito mais complicada que "somente alimentar".

Por isso, o processo de reintrodução da alimentação deve ocorrer de forma gradual e com acompanhamento especializado, evitando que qualquer sinal de alerta passe despercebido. Para tanto, também deve ser realizado um exame de sangue para identificar as deficiências nutricionais e, assim, proporcionar uma alimentação adequada.

O tempo necessário para que a dieta seja plenamente restabelecida pode ser maior que o esperado, levando semanas. Ter um massacre dessa magnitude em nosso próprio país torna ainda mais evidente o quanto mudar esse cenário pode ser desafiador. Por ora, o Governo Federal adotou medidas emergenciais para ampliar a assistência aos mais de 30 mil yanomamis.

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