Primeiros 'embriões humanos sintéticos' são criados em laboratório

20/06/2023 às 12:002 min de leitura

Cientistas dos EUA e do Reino Unido anunciaram a criação de “embriões sintéticos”, ou seja, estruturas semelhantes a embriões humanos geradas sem a presença de espermatozoides e óvulos. Essa é a primeira vez que um feito do tipo é divulgado.

Esses embriões ainda não têm cérebro ou coração, contudo eles têm capacidade de se desenvolverem e criarem estruturas presentes em embriões humanos naturais, desde que esse desenvolvimento seja estimulado.

Em tese, há a hipótese de que eles poderiam se desenvolver e se transformar em um organismo altamente complexo. Contudo, embriões de outros animais, cuja origem em laboratório era semelhante, não conseguiram sobreviver.

Em abril deste ano, cientistas criaram embriões sintéticos de macacos e os implantaram em fêmeas férteis. Alguns animais deram sinais de gravidez, mas as gestações não foram adiante.

Embriões de células-tronco

Fonte: Getty ImagesFonte: Getty Images

Esses embriões sintéticos foram criados a partir de células-tronco, células capazes de dar origem a diferentes tipos de tecido. Elas podem ser obtidas de tecidos maduros, como o cordão umbilical, mas também de embriões humanos.

As células-tronco embrionárias demonstram uma capacidade superior de gerar tecidos quando comparadas com as células-tronco de tecidos maduros. As pesquisas com células-tronco têm sido feitas há anos, com muitos objetivos, como o de encontrar curas para doenças ou reabilitar pessoas que sofreram graves acidentes.

Sendo assim, esse anúncio feito pelos cientistas britânicos e estadunidenses pode ser considerado um grande avanço para o futuro da medicina, uma vez que criou um embrião que poderia fornecer células-tronco sem precisar recorrer a embriões humanos.

Contudo, os resultados dessa pesquisa ainda serão analisados por outros pesquisadores, com o objetivo de comprovar os dados apresentados.

Embates éticos

Fonte: Getty ImagesFonte: Getty Images

As pesquisas com células-tronco obedecem a uma série de regulamentações visando manter um padrão ético de pesquisa, que não coloque a vida humana em risco.

No Brasil, temos a Lei de Biossegurança, que diz o seguinte sobre o tema:

“ (...) os embriões precisam estar congelados há pelo menos três anos; só podem ser usadas por meio de consentimento dos genitores; não será permitido o comércio de embriões, nem sua produção e manipulação genética, e ainda, são proibidas as clonagens terapêuticas, para aplicação em pesquisas e a reprodutiva. As terapias com o uso de células-tronco ainda estão em fase de pesquisa, podendo ser aplicadas somente de forma experimental por pesquisadores cujo projeto de pesquisa tenha sido aprovado previamente nos Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs)”.

No entanto, essa legislação só vale para embriões de origem humana. Não há ainda lei que trate sobre embriões sintéticos, como os anunciados nesse estudo — e as brechas legais precisam ser resolvidas para que as pesquisas avancem.

A Dra. Evie Kendal, da Universidade de Tecnologia de Swinburne, opinou sobre o tema em um comunicado à comunidade científica:

“Embora ainda não esteja claro como esses embriões sintéticos podem se desenvolver ou serem usados em pesquisas, se for determinado que eles não são equivalentes aos embriões humanos, ou é possível restringir seu desenvolvimento de forma que eles não adquiram certas características associadas a embriões legais e personalidade ética, eles poderiam ser potencialmente úteis em pesquisas atualmente consideradas muito arriscadas para usar embriões humanos”, afirmou.

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