Ciência
06/07/2023 às 02:00•2 min de leitura
A Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) é uma condição neurodegenerativa caracterizada pela acumulação progressiva de proteína tau anormal no cérebro, resultante de traumas repetidos na cabeça. A tau anormal forma emaranhados neurofibrilares, levando à disfunção celular e morte neuronal.
A ETC está associada principalmente a lesões cerebrais traumáticas, incluindo concussões, encontradas em esportes de contato e em casos de exposição crônica a impactos repetitivos, como no boxe e outras práticas. A doença apresenta um espectro de sintomas, como deterioração cognitiva, problemas de memória, distúrbios de humor e comportamentais, além de afetar a função executiva.
O diagnóstico definitivo requer a análise neuropatológica pós-morte do cérebro e foi, até recentemente, realizado exclusivamente em homens. No entanto, esta semana, os resultados da autópsia realizada no corpo da jogadora de futebol australiana Heather Anderson, morta no ano passado aos 28 anos, mudaram essa perspectiva após diagnosticar pela primeira vez um caso de ETC em uma mulher.
De acordo com o professor Michael Buckland, coautor do estudo, foram identificadas lesões claras no cérebro de Anderson, inclusive em regiões responsáveis pela regulação de movimento, memória, resolução de problemas, comportamento e linguagem, gerando sintomas que, de acordo com a família de Heather Anderson, “faziam muito sentido”. O cérebro da jogadora foi doado para a realização de estudos mais aprofundados.
O diagnóstico pode ser a ponta do iceberg para casos de ETC em mulheres, tendo em visto que a participação feminina em esportes e eventos esportivos aumentou exponencialmente nos últimos anos.
Com isso, reitero meu posicionamento, que venho reforçando há algum tempo em paralelo a diversos ex-atletas e entidades que pedem uma melhor regulamentação e definição de melhores normas para prevenir e lidar com casos de concussão, que são rotineiros em diversos esportes e podem, comprovadamente, gerar uma série de condições cerebrais graves que podem levar à morte ou invalidez.
Os protocolos atuais são rasos e pouco direcionados, o que faz com que em alguns casos os jogadores retornem à partida pouco depois de sofrer uma concussão ou que a prática sequer seja listada como infração, por isso, o movimento em prol da definição mais clara e rígida de normas a esse respeito é fundamental para a prática esportiva.