Ciência
13/08/2023 às 06:00•2 min de leitura
A febre do gênero "true crime" reacendeu o fascínio que as pessoas têm pelos psicopatas. É difícil entender exatamente o apelo desses sujeitos, que parecem transitar entre vários comportamentos, indo do carismático ao extremamente impiedoso.
Mas será que existem tantos psicopatas assim, como somos levados a crer, ou o termo já virou um rótulo mal empregado?
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Recentemente, um video do perfil "@everythigmentalissues", no Tiktok, viralizou ao mostrar um psicólogo clínico revelando como os "psicopatas" respondem ao estresse. Segundo sua explicação, a reação tem a ver com o sistema nervoso autônomo, a parte do corpo que reage em situações de ameaça.
Nessas ocasiões, a amígdala envia sinais ao hipotálamo, que aciona o sistema nervoso autônomo para se preparar para a ação. Em seguida, acontece a liberação de epinefrina (adrenalina) em nossas correntes sanguíneas, o que faz nosso coração disparar e ficarmos em alerta, prontos para reagir.
De acordo com o vídeo, o organismo dos psicopatas teria outra reação: a descarga de adrenalina não é a mesma e o coração não dispara. Por consequência, eles não se estressariam como as outras pessoas. Mas, segundo o escritor e historiador especialista em saúde Russell Moul, focar nesta característica promoveria uma redução enganosa do que significa a psicopatia.
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O problema, segundo Moul, é que toda essa popularização dos diagnósticos de psicopatia acaba prejudicando os indivíduos que sofrem de distúrbios mentais e os reduz a "pessoas más", diminuindo as possibilidades de que eles consigam ajuda.
"A definição de uma 'pessoa má' baseia-se na lógica cíclica em que atos malignos são executados por uma pessoa má simplesmente porque ela é má e faz coisas más. É inútil e explica muito pouco. O diagnóstico de 'psicopata' produz o mesmo resultado, mas com um verniz medicalizado. O termo é emocionalmente carregado e corre o risco de dar a um indivíduo com problemas de saúde mental um rótulo que o coloca além de qualquer ajuda", afirma Moul ao IFL Science.
O neurocientista Gabriel C. S. Gavin concorda. “Longe de ser uma descrição útil, o termo 'psicopata' evoca a imagem perfeita de alguém que você não estaria desesperado para ajudar, alguém tão desumano quanto aqueles anteriormente marcados como maus”, escreveu em um artigo no periódico Psychology Today.
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Segundo Gavin, o termo se tornou uma espécie de guarda-chuva que agrupa convenientemente vários tipos de comportamentos e pessoas, que vão desde os serial killers, até os banqueiros ou aquele ex-namorado mau caráter.
E isso é essencialmente nocivo, assim como a divulgação de "métricas" de psicopatia entre as pessoas, que sugerem que é possível prever quem estaria mais propenso a cometer crimes. "Receber uma pontuação alta em uma escala de psicopatia no sistema de justiça criminal pode ser facilmente usado para tirar conclusões empiricamente duvidosas de que a pessoa em questão não responderá ao tratamento e/ou não poderá ser reabilitada. Para mim, a comparação promove o estigma da saúde mental, principalmente no que diz respeito aos diagnósticos de personalidade. Isso pode criar barreiras adicionais para as pessoas encontrarem atendimento digno e apropriado para suas condições", afirma o psicólogo Xander Mach ao IFL Science.
Por tudo isso, caso você esteja entre os tantos sedentos por conteúdos sobre psicopatas, considere a possibilidade de que todo esse material possa estar causando prejuízos ao conhecimento sobre saúde mental.