Cientistas criam alternativa para 'injeção' inspirada nos polvos

03/10/2023 às 12:002 min de leitura

Muita gente costuma ter medo de agulhas e acha a sensação de ser espetado bem desagradável. Isso pode complicar a vida de quem tem que tomar remédios injetáveis de maneira permanente – como, por exemplo, as pessoas com diabetes, que precisam de injeções de insulina.

Por conta disso, vários cientistas experimentam formas diferentes de administrar essas substâncias. Jean-Christophe Leroux, que é professor na ETH Zurique, na Suíça, criou um novo método para administrar um medicamento injetável por meio da mucosa bucal, por meio de um patch que fica inserido no lado interno da bochecha.

Depois de algumas tentativas que não deram certo, Leroux e sua equipe acharam inspiração em um animal: o polvo.

O protótipo da ventosa

(Fonte: Popular Science)(Fonte: Popular Science)

Em estudo publicado na Science Translational Medicine, Leroux e sua equipe mostraram o protótipo do equipamento criado por eles, com o uso de uma impressora 3D. Trata-se de uma espécie de ventosa de sucção emborrachada que é anexada do lado interno da boca do paciente.

Eles então fizeram um teste com pessoas voluntárias, e observaram que a maior parte dos participantes se ajustou perfeitamente ao novo método, o qual preferiam em relação às injeções.

Segundo o pesquisador, a ideia é criar uma forma mais confortável que as agulhas para administrar certos remédios. “Desenvolvemos um sistema de administração muito simples e fácil de aplicar que poderia potencialmente substituir os injetáveis de vários tipos de medicamentos”, afirmou Leroux.

A inspiração no polvo

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Segundo Jean-Christophe Leroux, os pesquisadores tiraram a ideia justamente na forma pelas quais os polvos conseguem ficar ancorados dentro de mares agitados. “O ponto de partida foi imitar a boa sucção que essas criaturas tinham para aderir fortemente às superfícies molhadas”, explicou Leroux.

O método da ventosa promete ter vantagens em relação à ingestão do comprimido, pois administra o remédio ao longo do tempo, e pode ser removido sempre que for necessário. Além disso, o sistema evita que o medicamento seja dissolvido pela saliva.

Depois de realizar um teste com cães que usaram a ventosa, constatou-se que os animais apresentavam níveis mais elevados da droga no sangue do que se tivessem recebido por via oral normal. “Ficamos realmente impressionados com o nível de absorção que obtivemos com um sistema tão simples”, diz Leroux. 

Contudo, notou-se que, nos animais, o método injetável foi mais eficiente que a ventosa. Ainda assim, os pesquisadores ressaltaram que o protótipo trazia mais conforto para os animais, e que ele ficou instalado em suas bochechas por até três horas sem causar problemas.

A ideia dos cientistas é explorar mais o uso da parte interna da boca para administrar medicamentos, especialmente no uso de peptídeos, que são estruturas formadas com base na ligação entre duas ou mais moléculas de aminoácidos. Isso pode ser muito útil principalmente para pessoas que precisam de remédios injetáveis de maneira permanente.

Espera-se que, com o tempo, seja possível aprovar nos órgãos regulatórios novos métodos que driblem o uso de injeções. De acordo com a pesquisa feita pela equipe de Jean-Christophe Leroux, dos quarenta voluntários que participaram do experimento, 75% disseram não ter sentido desconforto com a ventosa. Quase 83% disseram preferir usar esse patch ao invés de uma agulha.


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