Ciência
07/11/2023 às 03:00•2 min de leitura
O tratamento contra a depressão exige bastante empenho, uma vez que vai muito além de investir em sessões de terapia. Pois além de se atentar aos aspectos mais básicos da rotina, a depender do método proposto, essa atenção também se estende ao uso contínuo de antidepressivos.
Dentre eles, estão os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Conhecidos por serem tratamentos de primeira linha, dada a menor ocorrência de efeitos colaterais, eles atuam elevando os níveis da serotonina, que é um neurotransmissor, no cérebro.
No entanto, muitos pacientes relatam que nem sempre seus benefícios podem ser percebidos no curto prazo, algo que muitas vezes justifica o abandono do tratamento. Por outro lado, entre especialistas, apesar de existirem estudos que exploram a relação entre a serotonina e os processos cerebrais, ainda há dúvidas sobre a forma como esse tipo de medicação atua.
Exame forneceu explicação biológica para a atuação dos ISRS. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Segundo um estudo publicado na revista Molecular Psychiatry, a atuação dos ISRS está relacionada com a neuroplasticidade cerebral, que diz respeito à capacidade de adaptação possuída pela nossa mente.
O experimento que explorou essa hipótese reuniu 32 pessoas saudáveis, que não tinham depressão. Parte delas foi orientada a tomar um medicamento antidepressivo ao longo de um mês. Em seguida, elas foram analisadas por meio de um exame de tomografia adaptado.
Por meio do uso de biomarcadores moleculares, esse tipo de diagnóstico não invasivo adotado torna possível visualizar a atuação do medicamento no cérebro. A partir desse PET scan, estudiosos descobriram que, a princípio, nenhuma mudança era percebida. Mas a partir de quatro semanas, maiores eram os sinais sinápticos detectados no exame.
Essa relação sugere que, de fato, a ação desses medicamentos leva algum tempo para gerar efeitos no cérebro. Além disso, os ISRS, que induzem a neuroplasticidade, atuam por meio das sinapses, as famosas ligações entre neurônios — ocorridas no campo cerebral, são elas que alimentam nossas ações, emoções e pensamentos.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
A mudança do humor dos pacientes, portanto, depende do período em que o antidepressivo é adotado, sendo ainda beneficiada pela neuroplasticidade cerebral. Mas por que o tempo é um fator tão decisivo quando falamos dessa classe de antidepressivos?
Apesar de ainda não existir uma razão clara, uma explicação bastante aceita sustenta que essa demora na ação seja justificada pela necessidade que o cérebro tem de recalibrar os níveis de serotonina. O estudo, por outro lado, indica que as mudanças se acumulam nas primeiras semanas do tratamento contra a depressão, de forma gradativa, antes de se tornarem perceptíveis.
Por ser o primeiro a oferecer uma visão da atuação dos ISRS, o estudo abre um caminho importante para futuras descobertas envolvendo o tratamento dessa doença tão complexa e que afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para ter uma maior compreensão acerca dessa atuação, o que inclui ainda acompanhar a ação de medicamentos em pessoas com depressão, ainda será necessário conduzir mais pesquisas em uma nova fase do estudo.