Ciência
23/05/2024 às 14:00•3 min de leituraAtualizado em 23/05/2024 às 14:00
Estudos indicam que mais de 350 milhões de cirurgias são realizadas ao redor do mundo por ano. Portanto, é bastante provável que praticamente todos os seres humanos necessitem, em algum ponto de suas vidas, ser submetidos a um procedimento que exija anestesia geral.
O ponto positivo? Sem essa técnica que nos deixa "apagado" por alguns instantes na mesa de cirurgia, tudo era menos seguro e saudável em termos de medicina. No entanto, também é preciso destacar que a ciência ainda não tem uma compreensão completa de como medicamentos anestésicos funcionam em nosso cérebro — mesmo que a anestesia geral tenha surgido há mais de 180 anos.
Um novo estudo publicado na The Journal of Neuroscience encontrou novas pistas sobre a complexidade da anestesia geral. De acordo com os pesquisadores, os anestésicos dessa classe parecem afetar apenas partes específicas do cérebro responsáveis por nos manter alertas e acordados. Mas para entendermos essa ação, temos que olhar para as pequenas diferenças entre as células do nosso cérebro.
Em termos gerais, existem duas categorias de neurônios: os "excitatórios", que nos mantêm alertas e acordados, e os "inibitórios", que regulam o primeiro grupo. Em nosso cotidiano, esses dois grupos estão constantemente trabalhando e buscando um equilíbrio. Quando dormidos, os inibitórios "silenciam" os excitatórios.
Porém, isso ocorre ao longo do dia, o que explica o fato de nos sentirmos cada vez mais cansados conforme as horas vão passando. Já anestésicos gerais, por sua vez, aceleram todo esse processo e silenciam diretamente os neurônios excitatórios. Por isso dizem que anestesias te "colocam para dormir". Afinal, o processo é essencialmente o mesmo — só que agilizado.
Se a anestesia é essencialmente dormir, a grande pergunta é: por que continuamos dormindo durante uma cirurgia? Afinal, quando adormecemos naturalmente, é comum despertar ao menor sinal de alerta presenciado pelo corpo. E, certamente, você notaria caso alguém tentasse realizar uma cirurgia durante uma noite sua de sono.
Até o momento, não há um consenso entre os cientistas sobre o porquê da anestesia geral fazer as pessoas permanecerem inconscientes. Mas todas elas parecem indicar um denominador comum: os neurônios param de conversar entre si quando expostos a esse tipo de medicamento.
Sem essa comunicação, nossos cérebros tornam-se incapazes de funcionar por um período e não conseguem entender o que está acontecendo pelo corpo.
O novo estudo indica que os anestésicos gerais parecem impedir a comunicação dos neurônios excitatórios, mas não dos inibitórios — um conceito novo para a ciência. Contudo, tudo parece estar conectado com as proteínas, que fazem com que os neurônios liberem moléculas chamadas neurotransmissores.
Esses mensageiros fazem os neurônios transmitirem sinais um para o outro. Dopamina, adrenalina e serotonina são exemplos disso. Os anestésicos gerais, por sua vez, prejudicam a capacidade dessas proteínas liberarem neurotransmissores, mas apenas os excitatórios.
A liberação desses neurotransmissores é um processo complexo que envolve muitos elementos. Se uma única peça do quebra-cabeça estiver errada, os anestésicos não serão capazes de fazer seu trabalho. Por fim, o estudo conclui que os medicamentos utilizados na anestesia causam uma inibição global massiva do cérebro. Logo, ao silenciar a excitabilidade de duas maneiras, essas drogas nos colocam para dormir e nos mantêm assim pelo tempo necessário.
É comum que muitas pessoas se questionem: as anestesias gerais são perigosas? Se olharmos para o passado, não há como negar que isso já foi uma prática arriscada. A primeira cirurgia bem-sucedida com uma anestesia geral aconteceu apenas em 1846. Desde então, o campo avançou rapidamente e essa prática agora é bem comum.
Pacientes ainda podem ter complicações — não se engane —, mas elas são raras. Estudos indicam que a anestesia moderna é extremamente segura, com taxa de mortalidade de apenas 3 mortes por 10 mil cirurgias. Mesmo assim, é importante sempre estar sendo acompanhado de uma equipe médica qualificada que possa determinar qual a melhor prática para o caso específico.