Ciência
26/10/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 26/10/2024 às 06:00
Pesquisadores das universidades de Cambridge e Oxford, na Inglaterra, conseguiram obter recentemente fortes indícios de que uma lesão cerebral pode ser a causa da chamada covid longa. Nessa condição, pessoas que tiveram covid-19 continuam apresentando sintomas, mesmo após a recuperação do quadro agudo da doença.
Segundo o estudo, publicado na revista Brain, alguns sintomas como fadiga, falta de ar e dor no peito persistem em alguns pacientes pós-hospitalizados com covid-19. Os autores propõem que essas manifestações corporais "são em parte devidas a danos aos principais núcleos neuromoduladores do tronco cerebral", diz o artigo.
Como o envolvimento do tronco encefálico foi amplamente demonstrado durante a fase aguda da doença, o estudo atual se concentrou nas alterações de longo prazo dessa estrutura essencial para a vida. Para isso, os autores usaram o mapeamento quantitativo de suscetibilidade (QSM) em campo ultra-alto, uma técnica de ressonância magnética que melhora a resolução da imagem e detecta alterações invisíveis na RM tradicional.
Composto por mesencéfalo, ponte e bulbo raquidiano, o tronco cerebral é a parte do encéfalo que conecta o cérebro à medula espinhal. Parte integrante do sistema nervoso central, ele controla importantes funções vitais e automáticas, como respiração, batimentos cardíacos, pressão arterial e reflexos (tosse, engolir).
Para a primeira autora do artigo, Catarina Rua, professora em Cambridge, "O fato de vermos anormalidades nas partes do cérebro associadas à respiração sugere fortemente que os sintomas duradouros são um efeito da inflamação no tronco cerebral após a infecção por covid-19".
Os pesquisadores escanearam os cérebros de 31 pessoas no pico da pandemia que haviam sido hospitalizadas com covid-19 antes da disponibilização das vacinas. Realizados pelo menos três meses após a alta hospitalar, foram detectadas sinais de inflamação nas três partes do tronco cerebral.
Usando o QSM de campo ultra-alto de sete teslas, os autores detectaram anormalidades microscópicas que revelam sinais de inflamação cerebral em pacientes, até 18 meses após a primeira infecção pelo vírus SARS-CoV-2.
A principal conclusão foi que "o tronco cerebral é um local de vulnerabilidade aos efeitos de longo prazo da covid-19, com mudanças duradouras visíveis nos meses após a hospitalização". Isso ficou mais evidente em pacientes com internações mais longas, covid mais grave, respostas inflamatórias marcantes e maior impacto na qualidade de vida.