Artes/cultura
31/05/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 31/05/2024 às 14:00
Pesquisadores da Universidade de São Paulo fizeram descoberta inédita em relação ao mecanismo de infecção do vírus SARS-CoV-2 em homens. Além do patógeno continuar ativo no esperma 110 dias após o início da infecção, ele desencadeia comportamento autodestrutivo nos espermatozoides.
A pandemia da covid-19 nos trouxe um novo e extenso campo de estudo. Os desdobramentos da infecção pelo SARS-CoV-2 continuam sendo analisados e acompanhados ao longo do tempo.
Essa demanda surgir pelas características do vírus, que ao contrário do que se pensava no início, que era apenas um patógeno que atinge o sistema respiratório, se mostrou um invasor multissistêmico.
Pensando nisso, um grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) têm realizado estudos para compreender o impacto da infecção no sistema reprodutivo humano, com foco nas células de reprodução masculina, os espermatozoides.
Ao longo dos últimos quatro anos, descobriu-se que as células dos testículos possuem maior número de receptores do tipo ACE2, utilizados pelo vírus como porta de entrada celular.
Mas além dos receptores, os testículos também possuem uma proteína chamada TMPRSS2, que contribui para a ligação do vírus no receptor ACE2.
Assim como os homens, mulheres também possuem o receptor ACE2 nos ovários, no entanto, não possuem a mesma pré-disposição para infecção, possivelmente pela ausência da proteína TMPRSS2, entre outros fatores.
Com esse fator aditivo de risco para os homens, os pesquisadores têm se debruçado para compreender potenciais risco para reprodução humana.
No novo estudo, foram analisadas as amostras de esperma de 13 homens, convalescentes da infecção. As amostras foram adquiridas 90 e 110 dia após o quadro infeccioso.
Os exames de PCR apontaram resultado negativo para a presença do vírus nas amostras, no entanto, quando os estudiosos observaram o que estava acontecendo em escala microscópica, o que detectaram foi muito além do que esperavam.
No exame de microscopia eletrônica, eles observaram que a presença do vírus no esperma fazia com que os espermatozoides ativassem um mecanismo imunológico, chamado de "armadilha extracelular neutrofílica".
Esse tipo de comportamento é visto em células imunológicas como o neutrófilo, que libera seu conteúdo celular, formando uma espécie de rede que captura o invasor e o inativa.
Na presença do SARS-CoV-2, os espermatozoides rompem suas membranas celulares e expõem o DNA, formando as mesmas redes, neutralizando o vírus. Esse comportamento de defesa imunológica, vindo de uma gameta, nunca havia sido observado antes.
Estudos mais detalhados precisam ser realizados para compreender o motivo para o comportamento dos espermatozoides, no entanto, especialistas alegam ser necessário cuidado caso haja intenção de gravidez.
A qualidade do esperma pode ser prejudicada pela infecção, podendo gerar infertilidade ou anomalias nos espermatozoides. Há indicação de aguardar ao menos 6 meses antes de tentar realizar procedimentos de fertilização ou relações com fins reprodutivos.
Por fim, as novas observações do grupo de pesquisa podem quebrar paradigmas, dando uma nova função ao espermatozoide, que além de célula para reprodução humana, também poderia atuar como agente imunológico.