Estilo de vida
21/03/2024 às 16:07•2 min de leituraAtualizado em 21/03/2024 às 16:07
A poliomielite, chamada também de paralisia infantil ou pólio, era uma doença que praticamente condenava à morte quem a contraia no começo do século XX. A infecção viral prejudica o sistema nervoso central e é capaz de paralisar inclusive o pulmão, o que aumentava de forma considerável a mortalidade.
Na década de 1920, o tratamento foi ao menos amenizado graças à invenção de um equipamento com visual peculiar. Trata-se do pulmão de ferro, também chamado de pulmão de aço, uma câmara metálica e cilíndrica que auxilia na respiração.
Também conhecido como Homem do Pulmão de Ferro, Paul Alexander faleceu em março de 2024 aos 78 anos e foi a última pessoa viva que fez uso do equipamento. A sua história data de um período anterior à vacina, em que soluções engenhosas eram criadas para tentar vencer a doença.
O pulmão de ferro foi inventado em 1927 por Philip Drinker, um engenheiro e médico, e o pesquisador Louis Shaw, ambos membros da Universidade de Harvard nos Estados Unidos.
Um ano depois, ele foi usado pela primeira vez para salvar a vida de um jovem e, por décadas, foi uma das principais armas do combate à pólio.
O pulmão de ferro é um cilindro com dois metros de comprimento, o suficiente para acomodar o corpo de uma pessoa — exceto a cabeça, que era mantida para fora e apoiada em um travesseiro.
A câmera é conectada a um fole, que por sua vez é ligado a uma bomba. Esse é o mecanismo que estimula de maneira "forçada" a respiração dos pacientes: a câmara, que é totalmente vedada, sofre variação na pressão do ar para comprimir e expandir o tórax do paciente.
A maior parte dos pacientes que venciam a doença precisavam passar algumas semanas ou poucos meses dentro do equipamento, até recuperar as funções respiratórias. Foram poucos os casos como o de Paul Alexander, que não só dependia do equipamento como viveu décadas além da estimativa dos médicos.
A descoberta da vacina da poliomielite, em 1955, fez com que o pulmão de ferro caísse em desuso. A imunização em massa aos poucos foi reduzindo de forma considerável a quantidade de pacientes graves.
O processo de funcionamento do pulmão de ferro, chamado de Ventilação com Pressão Negativa Externa (ENPV), passou a ser realizado com equipamentos cada vez menores. Por volta da década de 1960, a fabricação desse tipo de equipamento se encerrou e apenas algumas unidades seguiam em funcionamento, já que as câmaras têm alta durabilidade.
Em 1953, pouco antes do surgimento da vacina, o dinamarquês Bjørn Aage Ibsen foi o inventor do ventilador mecânico, que aplica um princípio parecido de uma forma mais compacta e menos invasiva. O aparelho foi usado para tratamento de várias outras condições ao longo dos anos, quando os surtos de paralisia infantil já estavam contidos.
Ainda assim, o pulmão de ferro é considerado um pioneiro na medicina intensiva, em especial no estímulo a órgãos com dificuldade de funcionamento.
Segundo especialistas consultados pela BBC, o conceito de unidade de terapia intensiva, ou UTI, foi criada para atender em massa pacientes que necessitavam em especial da ventilação após contrair pólio.