Ciência
22/07/2024 às 16:00•2 min de leituraAtualizado em 22/07/2024 às 16:00
Passados quatro anos do início da epidemia da covid-19, pacientes do mundo inteiro têm sido acometidos por um amontoado de mais de 200 sintomas, conhecido como síndrome pós-covid-19 ou covid longa. Esse conjunto de sinais debilitantes costuma durar meses ou até anos após a cura (aparente?) da doença original.
Agora, em um estudo publicado recentemente na revista Science Translational Medicine, uma equipe numerosa de pesquisadores internacionais realizou um dos mais longos estudos em 24 pacientes com covid-19 (900 dias). A pesquisa revelou um potencial fator comum além de um SARS-CoV-2 persistente: “a ativação aberrante de células T”.
Segundo o estudo, foi identificado em cinco participantes o RNA do vírus SARS-CoV-2, especificamente aquele que codifica a proteína spike, na forma de fita simples, em amostras do intestino grosso. Em outros três participantes, foi também encontrado o RNA codificador da proteína spike, porém de fita dupla, o que sugere a replicação ativa do vírus.
Para testar suas hipóteses, os pesquisadores fizeram imagens de tomografia por emissão de pósitrons (PET) de corpo inteiro em uma coorte bem definida de 24 participantes, durante uma linha temporal que variou de 27 até 910 dias, após a fase aguda da infecção por SARS-CoV-2. Eles usaram um agente radiofármaco específico para estudar o metabolismo e a proliferação celular, que permitiu a contagem anatômica dos linfócitos T ativados.
Para o coautor Danny Altmann, professor de imunologia no Imperial College London, foram encontrados "padrões de ativação de células T de longo prazo que podem ajudar a explicar padrões de sintomas de Covid longa", afirmou em comunicado.
Para ele, pessoas que vêm reclamando de sintomas respiratórios persistente mostraram a presença duradoura do envio de células T ativadas para o pulmão.
Como alguns exames revelaram um "festival" de células T na parede intestinal, a equipe analisou várias biópsias do órgão. Nas amostras de tecidos, haviam sido encontrados sinais de RNA de covid-19, ou seja, um "reservatório viral de longo prazo", explica Altmann.
Mas a coisa ficou mais clara quando eles compararam os resultados com seis amostras de controle, isto é, exames anteriores à pandemia, "antes que qualquer pessoa no planeta pudesse ter tido esse vírus", segundo o principal autor do estudo, Michael Peluso, da Universidade da Califórnia em São Francisco.
Quando, nesses exames pré-covid, as células T estavam ativadas, elas se concentravam apenas nos órgãos (fígado, rins entre outros) onde tinham ido limpar a inflamação ou infecção. Mas, nos pacientes de covid longa, elas estavam ativas no corpo inteiro, desde a medula espinhal e intestinos, até a parede cardíaca ou tecido pulmonar.