Ciência
04/12/2017 às 09:32•2 min de leitura
Que atire o primeiro livro de colorir para adultos quem nunca se viu em uma situação do mais completo tédio, quando não há nada de muito interessante que se possa fazer e quando a vontade de fazer alguma coisa produtiva acaba não vindo, só para piorar o cenário.
Nesses momentos, é comum ouvirmos alguém dizer que está simplesmente morrendo de tédio, certo? A questão é: será mesmo que isso pode acontecer? Será que uma pessoa pode chegar a literalmente morrer de tanto se sentir entediada? A resposta é: sim.
Isso não significa, obviamente, que o tédio por si só pode vestir aquela fantasia da morte, invadir nossos lares e enfiar uma faca em nossos corações – ufa.
O que acontece, na verdade, é que o tédio nos deixa mais suscetíveis a coisas que de fato nos matam. Uma pesquisa realizada nos anos de 1980 em Londres, com 7,5 mil pessoas entre 33 e 55 anos, perguntou aos voluntários se eles se sentiam entediados no trabalho com muita frequência no último mês e se eles tinham praticado alguma atividade física recentemente.
Os resultados revelaram que 7% das pessoas se diziam realmente entediadas no último mês, e 2% dos entrevistados disse que o tédio é superpresente em suas vidas – além disso, os mais entediados eram também os que menos praticavam exercícios físicos.
Em 2009, a mesma pesquisa voltou à tona – dessa vez, com o intuito de descobrir o que havia acontecido com a galera entediada. Esse cruzamento de dados revelou que as pessoas mais vítimas do tédio eram as que mais acabaram morrendo com o passar dos anos e tinham também mais chances de desenvolverem doenças do coração.
Ao que tudo indica, o tédio que se carrega por muito tempo, de forma acumulativa, também aumenta nossas chances de morte – avaliações realizadas ao longo dos anos, entre uma pesquisa e outra, revelaram que as pessoas que se diziam entediadas demais eram também as que morriam primeiro.
A relação entre morte e tédio parece estar no fato de que pessoas entediadas se sentem desmotivadas e infelizes, o que acaba fazendo com que elas optem por hábitos não saudáveis como fumar, beber, usar drogas e comer demais – todos esses hábitos aumentam as chances de uma pessoa desenvolver doenças cardíacas e de ter um acidente vascular cerebral.
Outra pesquisa, agora realizada em Baltimore, revelou que usuários de droga que se dizem entediados são também as pessoas que mais apresentam sintomas de depressão e que acabam adotando comportamentos perigosos. No Reino Unido, descobriu-se que motoristas que se dizem entediados enquanto estão ao volante têm mais chances de se envolver em acidentes de trânsito.
É bem verdade que as pessoas tendem a tomar atitudes às vezes estúpidas quando estão entediadas. No entanto, é sempre possível buscar maneiras de enxergar o tédio de outra forma, como defende o escritor Neil Gaiman, que se apega ao tédio para deixar que sua mente viaje e para ter ideias criativas – você pode até não gostar de escrever, mas certamente pode estimular sua mente e a ter ideias produtivas quando o tédio chegar.