Ciência
22/03/2018 às 08:00•2 min de leitura
A Islândia, como você deve saber, é uma terra com bastante atividade vulcânica, tanto que boa parte de sua paisagem surreal lindíssima foi “moldada” por milhares de anos de vulcanismo. Pois, aparentemente, não foi apenas o território que foi alterado pelos inúmeros vulcões que existem por lá não! Olha que coisa mais interessante um time de cientistas descobriu: a ilha foi palco de uma erupção sinistra no século 10 e documentos da época sugerem que esse evento catastrófico pode ter motivado a conversão dos habitantes locais do paganismo ao cristianismo.
Mais especificamente, pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, analisaram um antigo poema islandês chamado Voluspá, que foi redigido no ano de 961 e que trata do declínio do paganismo e o fortalecimento do cristianismo na ilha. Eles encontraram indícios claros de que o texto relata acontecimentos relacionados com a erupção do vulcão Eldgjá e de como a tragédia afetou a crença da população afetada.
Segundo registros históricos e geológicos, a erupção do Eldgjá foi a maior que ocorreu na Islândia nos últimos 2 mil anos e gerou um desastre colossal de proporções “bíblicas”. Para você ter uma ideia, as estimativas apontam que o vulcão “vomitou” por volta de 20 quilômetros cúbicos de lava, quantidade que seria suficiente para cobrir a Inglaterra inteira com material vulcânico até a altura dos tornozelos.
Eldgjá hoje – lindo, né? (Phys Org/Clive Oppenheimer)
A erupção começou por volta da primavera do ano de 939 e o vulcão só foi parar de jorrar lava no outono do ano seguinte. Com isso, se formou uma nuvem carregada de partículas de enxofre que se espalhou por toda a Europa, e existem registros em crônicas deixadas pelos italianos, irlandeses e alemães de que os céus se tornaram vermelhos como sangue e que o Sol se tornou fraco e obscurecido.
Essas descrições são consistentes com o que pode ocorrer no evento de uma erupção de grande proporção, uma vez que o acúmulo de poeira reduzir consideravelmente a quantidade de luz solar que chega à superfície, afetando também o clima. No caso da erupção do Eldgjá, os cientistas acreditam que ela desencadeou os verões mais frios dos últimos 1,5 mil anos na Europa central, Escandinávia, Ásia Central e algumas regiões da América do Norte, locais que registraram temperaturas médias 2 graus abaixo do normal.
Eldgjá visto de outro ângulo (Wikimedia Commons/Ilya Grigorik)
E não foi só isso: a erupção deu origem a estiagens severas, surgimentos de pragas e morte de rebanhos que, consequentemente, geraram escassez de alimentos e ondas de fome em várias partes do mundo. Então, pense em como não foi para a galera que vivia na Islândia quando o vulcão entrou em erupção! Certamente foi devastador.
Os primeiros povos a se estabelecerem na ilha foram grupos celtas e vikings, que começaram a chegar lá por volta do ano 874. Localmente, a fúria do Eldgjá teve um profundo impacto nos habitantes — que decidiram abandonar sua fé em figuras como Odin, Thor e Freya para apelar a Deus, Jesus Cristo, Espírito Santo e a todos os anjos do céu.
Voluspá (Phys Org/Clive Oppenheimer)
E as descrições presentes em Voluspá, o poema, não só coincidem com outros relatos que sobreviveram sobre a erupção, como falam sobre o fim das divindades pagãs e a chegada de um deus singular e único — que os cientistas interpretaram como o fim do paganismo e a conversão dos islandeses ao cristianismo. Fascinante isso, né? E curioso como as desgraças motivam o afloramento da fé, você não acha? Conte aí nos comentários o que você opina!