Cálice romano com banha de porco é achado junto de cadáver saxão de 1,5 mil anos

15/12/2024 às 15:002 min de leituraAtualizado em 15/12/2024 às 15:00

Uma descoberta arqueológica digna de roteiro de filme está deixando os especialistas de cabelo em pé. Os restos mortais de 1.500 anos de uma jovem anglo-saxã foram encontrados em uma sepultura na vila de Scremby, na Inglaterra, junto de um objeto peculiar: um antigo cálice romano, com nada menos que 1.800 anos. E não é só isso! O copo não estava vazio; ele já conteve gordura de porco, o que faz os pesquisadores se perguntarem o porquê desse objeto ter sido enterrado junto com a menina.

A história começou em 2018, quando arqueólogos escavaram um cemitério anglo-saxão com 49 túmulos datados de 480 a 540 d.C. Entre eles, a sepultura da adolescente chamou a atenção por conter esse inusitado cálice romano multicolorido. "O copo foi encontrado em um enterro que poderia ser considerado 'ordinário', mas sua natureza única me faz pensar que ele tinha um propósito mais especial", afirmou Hugh Willmott, arqueólogo da Universidade de Sheffield, ao Live Science.

O cálice misterioso

Taça Scremby foi um artefato da era romana trabalhado em esmalte multicolorido. (Fonte: Hugh Willmott/Divulgação)
Taça Scremby foi um artefato da era romana trabalhado em esmalte multicolorido. (Fonte: Hugh Willmott/Divulgação)

Conhecido como "Scremby Cup", o cálice de 5,7 centímetros de altura e com capacidade para 280ml é um verdadeiro tesouro arqueológico. Decorado com luas e corações em esmalte vermelho, aquamarine e roxo profundo, acredita-se que ele tenha sido fabricado na França por volta do século 3 d.C., durante o domínio romano na Britânia. Originalmente, é provável que os romanos usassem o copo para beber vinho. Mas como ele foi parar na sepultura de uma jovem anglo-saxã, tantos anos depois?

Para tentar resolver esse quebra-cabeça, os pesquisadores analisaram resíduos no fundo do cálice. E aí veio a surpresa: uma alta concentração de lipídeos, provavelmente de gordura de porco. Segundo os estudiosos, a gordura poderia ser apenas um alimento, mas também tinha outros usos na época romana. "A gordura animal era usada como hidratante, mas também podia ter finalidades medicinais", explicaram os pesquisadores no estudo publicado no European Journal of Archaeology.

Uma possibilidade intrigante é que a menina enterrada poderia ser uma curandeira local. "Vale considerar que a mulher sepultada poderia ser alguém que praticava medicina popular na comunidade", sugeriu Willmott. Naquela época, a gordura de porco era usada para tratar parasitas intestinais e curar ferimentos. 

Uma herança ou um achado?

Imagem feita por arqueólogos mostra taça ao lado de cadáver. (Fonte: Hugh Willmott/Divulgação)
Imagem feita por arqueólogos mostra taça ao lado de cadáver. (Fonte: Hugh Willmott/Divulgação)

Outro mistério que ronda o Scremby Cup é sua origem entre os anglo-saxões. Como esse cálice romano sobreviveu por tantos séculos em perfeito estado? Os pesquisadores acreditam que ele poderia ter sido uma herança passada de geração em geração. Outra hipótese é que ele foi retirado de uma sepultura romana. "O fato de ele ser claramente antigo é onde está sua verdadeira relevância social", afirmaram os estudiosos no artigo.

O cálice foi colocado na cabeceira da jovem, junto a broches simples. Essa posição e os possíveis simbolismos indicam um ritual não visto em nenhuma outra sepultura feminina do cemitério. Será que esse objeto tinha um significado espiritual ou social para a comunidade de Scremby?

Enquanto os arqueólogos continuam a busca por respostas, amostras de DNA estão sendo analisadas. Quem sabe, em breve, possamos descobrir mais sobre a jovem desenterrada e o que levou um copo romano repleto de gordura de porco a acompanhá-la em sua última jornada.

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