Artes/cultura
18/04/2018 às 09:00•2 min de leitura
Apesar de parecer meio estranho, muita gente tem o hábito de cheirar todo livro que abre antes mesmo de começar a leitura. Chega a ser quase um ritual que pode ser realizado tanto com uma profunda fungada em uma página aleatória quanto com uma cheirada mais de leve, aproveitando aquela brisa que sai de um rápido folhear. De um jeito ou de outro, por que algumas pessoas fazem isso?
De acordo com pesquisadores da Universidade de Londres, os odores vindos do passado são como uma herança cultural para os seres humanos, tanto do ponto de vista histórico quanto psicológico. Afinal, quem não se lembra de alguém especial quando sente um perfume específico? Ou então pensa na mamãe ou na vovó quando sente o aroma de alguma comida deliciosa? Um bolo de chocolate, talvez?
No caso de livros velhos, aquele aroma característico é resultado do processo de decomposição das folhas de papel. Ou seja, as pessoas amam o cheiro do mofo que toma conta das obras esquecidas em prateleiras, estantes ou caixotes. Para alguns, o aroma chega a ser realmente prazeroso, e há pessoas que até viram os olhos quando dão uma bela fungada literária.
Como é produzido a partir da madeira, o papel libera compostos orgânicos voláteis no ar com o passar do tempo. Mas não se preocupe, pois os gases que saem dos livros não são necessariamente prejudiciais à saúde. A não ser que você seja realmente viciado em respirar esse tipo de ar e viva em um ambiente repleto de livros mofados. Aí é provável que seu pulmão vá chiar, literalmente, em algum momento.
Cada livro pode exalar diferentes tipos de aromas, variando de acordo com o material usado no papel e na tinta. E foi essa a questão abordada pelo estudo britânico: identificar quais materiais foram usados em determinada obra e a qual período da história ela pertence. Tudo isso somente pelo poder do olfato humano.
Como parte da pesquisa, alguns voluntários foram submetidos a um “teste-cego” de diferentes aromas, e para a surpresa dos cientistas, os livros antigos foram identificados por cheirarem como chocolate e café, por exemplo. No caso, duas substâncias que também têm origem vegetal e estão diretamente ligadas ao prazer em grande parte da população.
“Você tende a fazer associações familiares para descrever cheiros quando eles não são previamente rotulados. Tanto o café quanto o chocolate liberam compostos orgânicos voláteis na atmosfera que são muito semelhantes aromaticamente aos liberados por livros antigos”, explicou Cecilia Bembibre, pesquisadora da Universidade de Londres.
Se você gosta de química, saiba que os livros podem liberar benzaldeído, vanilina, tolueno, etilbenzeno e 2-etil-hexanol. A primeira substância libera notas aromáticas parecidas com as encontradas em amêndoas, enquanto a segunda está relacionada à baunilha. Já a terceira e a quarta dão um toque adocicado, e a última é responsável por uma leve fragrância floral. Mas a mistura que entra pelas narinas ainda pode conter outras moléculas, dependendo de como os textos foram armazenados ao longo do tempo.
Identificando todos os cheiros e suas respectivas substâncias, os cientistas esperam antecipar processos de degradação de grandes obras históricas e preservá-las em maior segurança. Quanto a você, caso a tecnologia já tenha esvaziado suas estantes e deixado todos seus livros digitalizados na palma da sua mão, existem até incensos e velas que simulam esses aromas que mexem com a imaginação de muita gente mundo afora.